Nanomedicina poderá ser um marco no tratamento de leucemias de alto risco

Cientistas australianos da área da nanomedicina desenvolveram uma nova abordagem numa investigação recente para resolver um problema clínico de décadas: fazer com que os medicamentos atuem seletivamente nas células cancerígenas do organismo. Publicado na revista Science Translational Medicine, o estudo abre caminho para opções de tratamento mais seguras e eficazes para crianças com cancro do sangue agressivo e, potencialmente, para outros tipos de doenças oncológicas que ocorrem em idade pediátrica.

A quimioterapia é o tratamento padrão para a leucemia, o cancro do sangue mais comum em crianças. No entanto, embora a quimioterapia possa ser muito eficaz para certos tipos de leucemia, não o é para alguns outros tipos, conhecidos como leucemias de “alto risco”. O tratamento para leucemias de alto risco geralmente envolve altas doses de medicamentos tóxicos que afetam indiscriminadamente células cancerígenas e células saudáveis. Isso geralmente leva a efeitos colaterais graves, bem como a problemas de saúde ao longo da vida nos sobreviventes.

“Encontrar uma forma de fazer com que os medicamentos atuem de forma mais seletiva nas células cancerígenas é a chave para melhorar o sucesso do tratamento e, ao mesmo tempo, reduzir a toxicidade em crianças tratadas para leucemia de alto risco”, afirmou a professora Maria Kavallaris do Children’s Cancer Institute, na Austrália, que liderou a investigação. “Ao visar especificamente as células da leucemia, podemos tornar o tratamento mais eficaz, bem como muito mais seguro para administração em crianças”, acrescentou.

Durante esta investigação, os cientistas usaram uma formulação especial de um medicamento oncológico, a doxorrubicina, na qual este é encapsulado em minúsculas partículas chamadas lipossomas. A essa formulação, eles adicionaram “anticorpos biespecíficos” – anticorpos capazes de reconhecer e ligar-se ao medicamento numa extremidade e às células cancerígenas na outra extremidade, atuando efetivamente como uma ponte entre os dois. Conhecido como um “sistema de entrega de medicamentos direcionados”, permite atuar no organismo para entregar o fármaco no seu alvo, neste caso, as células da leucemia, destruindo-as, sem afetar as células saudáveis.

“O que é particularmente útil nesta nova abordagem é a sua flexibilidade”, explicou o principal autor da investigação, o Dr. Ernest Moles, cientista do Children’s Cancer Institute. “Podemos usar este sistema para atacar qualquer leucemia, incluindo os subtipos de alto risco. Em vez de ter de projetar uma terapêutica completamente nova a cada vez, tudo o que precisamos de fazer é mudar a ‘ponte de anticorpos’ e direcionar o mesmo medicamento para qualquer tipo de cancro sanguíneo em qualquer criança”, sublinhou.

“Além disso, essa abordagem pode permitir combater a resistência a medicamentos num paciente individual. Se as células cancerígenas de uma criança tentarem escapar da quimioterapia alterando a sua superfície celular, podemos modificar o sistema de administração de medicamentos direcionados para que seja capaz de reconhecer a célula cancerígena alterada. Não haverá escapatória fácil”, destacou o investigador.

A nova abordagem mostrou funcionar bem não apenas em células de leucemia cultivadas em laboratório, mas também em modelos vivos da doença. Nesses modelos, descobriu-se que o sistema de administração de medicamentos direcionados não apenas reduz a intensidade da doença, mas também prolonga significativamente a sobrevida – em alguns casos, até quatro vezes.

Os investigadores acreditam que essa mesma abordagem poderia ser usada para melhorar a seletividade de toda uma gama de agentes terapêuticos de nova geração, não somente fármacos quimioterápicos, abrindo caminho para oferecer às crianças opções terapêuticas alternativas muito mais seguras do que as que existem atualmente. Também poderá ser um forte contributo para a medicina de precisão.

“No futuro, pode ser que cada criança diagnosticada com leucemia possa ter um tratamento direcionado para o seu subtipo específico, com base na análise de uma amostra de sangue”, concluiu Kavallaris.

Fonte: Phys.org

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