Remover uma proteína que muitas vezes é super-expressa num subtipo raro e agressivo de leucemia pode ajudar a retardar o desenvolvimento da doença e aumentar significativamente a probabilidade de sobrevivência, de acordo com uma investigação realizada por cientistas do Jonsson Comprehensive Cancer Center, nos Estados Unidos.
Os resultados, publicados na revista Leukemia, podem ajudar no desenvolvimento de terapias direcionadas para cancros que apresentem níveis elevados da proteína IGF2BP3 de ligação a RNA – especialmente leucemias linfoblásticas e mieloides agudas que são caracterizadas por rearranjos cromossómicos na leucemia de linhagem mista (gene MLL).
Nessas leucemias “rearranjadas” por MLL, o IGF2BP3 liga-se a algumas moléculas de RNA que possuem instruções genéticas para proteínas relacionadas ao cancro, amplificando de forma marcante o desenvolvimento da doença.
Crianças e adultos diagnosticados com este subtipo de leucemia têm um prognóstico muito reservado e uma elevada taxa de recidiva após o tratamento.
“Este tipo de leucemia é mais agressivo por causa da sua capacidade de se dividir e de se disseminar mais rapidamente. Esta é uma doença muito difícil de tratar, mesmo com as novas imunoterapias direcionadas”, explicou Dinesh Rao, um dos cientistas envolvidos na investigação.
A leucemia tem início na medula óssea e é estimulada por mutações genéticas que fazem com que as células estaminais da medula produzam muitos glóbulos brancos, o que afeta a capacidade do corpo de combater infeções.
Anteriormente, a equipa já havia identificado a proteína IGF2BP3 como um fator que impulsiona o desenvolvimento da leucemia – particularmente o subtipo rearranjado pelo gene MLL – regulando várias mensagens de RNA que contribuem para a doença.
Tendo em consideração esse conhecimento, os cientistas começaram a questionar-se sobre a possibilidade de a remoção da proteína IGF2BP3 poder interromper a proliferação de células de leucemia. De forma a obter uma resposta, a equipa usou uma ferramenta de edição de genes, o CRISPR-Cas9, para remover a proteína IGF2BP3 de ratos com leucemia.
“Os efeitos nas taxas de sobrevivência foram impressionantes”, afirmaram.
Das cobaias com leucemia a quem foi removida a proteína IGF2BP3, aproximadamente 75% tiveram um aumento na taxa de sobrevivência geral e 50% ficaram curados.
A equipa também observou uma redução média de quatro vezes na carga tumoral dos ratos – a massa total de tecido tumoral no corpo – após a remoção da proteína.
“Estes resultados destacam a proteína IGF2BP3 como um alvo terapêutico atraente e valioso”, disse a autora principal Tiffany Tran.
“Percebemos que, se direcionássemos esta proteína de ligação ao RNA, seríamos capazes de direcionar as células cancerígenas diretamente, sem afetarmos as células saudáveis”.
Ao direcionar a proteína IGF2BP3, a equipa também descobriu que esta não era necessária para o desenvolvimento normal do sangue em ratos – o sistema sanguíneo pareceu praticamente intacto quando a proteína foi removida.
“Isso foi algo surpreendente, uma vez que muitas proteínas que são importantes quer para o cancro quer para os tecidos normais”, afirmou Dinesh Rao.
“Este também é um alvo muito interessante, porque fizemos alguns avanços reais na compreensão de como ele funciona nas células cancerígenas. Fomos capazes de localizar algumas moléculas importantes de RNA às quais ela se liga, que codificam outras proteínas cancerígenas. Portanto, se removermos essa proteína, podemos modificar a quantidade de outras proteínas cancerígenas.”
Apesar de terem analisado a proteína IGF2BP3 enquanto um alvo em leucemias, os cientistas afirmam que as suas descobertas também podem vir a ser uteis noutros tipos de cancro, uma vez que entre 15% a 20% também expressam esta proteína: esses incluem glioblastoma, cancro do pâncreas, cancro do pulmão e melanoma.
Fonte: Medical Xpress