Médicos e cientistas do St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, estão a trabalhar com colegas em todo o mundo para desenvolver novas maneiras de eliminar cancros difíceis de tratar usando células imunitárias das próprias crianças diagnosticadas com a doença.
Uma colaboração recente com colegas do Shanghai Children’s Medical Center, na China, encontrou uma nova combinação de imunoterapia que resultou na remissão para praticamente todas as crianças – 99% – que tiveram recidiva de leucemia linfoblástica aguda de células B – dos 225 pacientes, quase três quartos também não tiveram outra recaída nos 12 meses seguintes ao tratamento.
Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Oncology. A pesquisa faz parte de um amplo plano estratégico do St. Jude Children’s Research Hospital para acelerar o progresso em direção a curas e meios de prevenção para doenças infantis, ao mesmo tempo em que melhora o acesso a cuidados de qualidade para crianças de todo o mundo.
Esta nova investigação tem como base o trabalho desenvolvido pelo St. Jude Children’s Research Hospital há mais de 60 anos, quando os médicos combinaram quimioterapias para tratar crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda. Esta abordagem pioneira ajudou a aumentar substancialmente as taxas de sobrevivência – há mais de 60 anos, apenas 5% das crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda sobreviviam; hoje em dia, o valor é de 95%.
A investigação usou uma abordagem de tratamento de combinação semelhante para abordar os casos mais difíceis de leucemia linfoblástica aguda recidivante.
“Aprendemos que devemos atingir as células cancerígenas com terapias combinadas com diferentes mecanismos de ação ao mesmo tempo para curar os pacientes”, disse Ching-Hon Pui, médico no St. Jude Children’s Research Hospital e principal autor do estudo.
“Esse trabalho levou-nos, neste caso a conseguir uma taxa de remissão de 99%, que é um valor francamente excelente”, disse.
“Estes resultados são a prova daquilo que podemos alcançar quando trabalhamos em conjunto. Para além de fantásticos, trarão esperança e opções de cura para crianças com leucemia refratária em todo o mundo”, explicou Carlos Rodriguez-Galindo, MD, presidente do Departamento de Medicina Pediátrica Global do St. Jude.
A investigação usou dois tipos de células imunitárias reprogramadas em laboratórios chamadas “células T do recetor de antígeno quimérico (CAR)”. As células CAR T funcionam como as células imunitárias naturais do corpo, mas são projetadas para atingir proteínas específicas encontradas em certas células cancerígenas. As células cancerígenas muitas vezes evitam a morte pelo sistema imunitário, o que permite a sua sobrevivência e proliferação.
Neste estudo, os cientistas misturaram dois tipos de células CAR T.
“O nosso pensamento foi o seguinte: se um tipo de células CAR T não consegue eliminar todas as células cancerígenas, talvez um outro tipo de células Car T o possa eliminar as restantes, quando usado em combinação”.
Este estudo também beneficiou dos avanços na preparação de células CAR T, que costumava demorar mais de um mês. Desta vez, os cientistas conseguiram criar as células CAR T necessárias no espaço de uma semana.
“Uma vez que esta preparação foi feita de forma muito rápida, os pacientes receberam o tratamento em boas condições clínicas. Noutras abordagens, é preciso submeter o paciente a uma quimioterapia adicional, para evitar a progressão da doença e tentar manter o paciente em boa forma durante os 35 a 40 dias que demora a para preparar as células CAR T. O paciente pode ficar muito doente ou ter muitas células de leucemia antes de receber o tratamento com células CAR-T, pelo que esta nova abordagem, mais rápida, oferece uma grande vantagem.”
Os médicos envolvidos no estudo também estavam interessados em usar as células CAR T como uma alternativa à radiação para o tratamento de pacientes com recidiva extra-medular, que acontece quando o cancro retorna fora da medula óssea.
“A prática comum é usar radiação para tratar este problema, mas a radiação está ligada a complicações nos anos após o tratamento, como o desenvolvimento de um tumor cerebral secundário, problemas neuro-cognitivos e crescimento restrito entre pacientes tratados para recidiva do sistema nervoso central ou problemas de esterilidade em pacientes tratados para recidiva testicular”.
“Embora esta nova abordagem de imunoterapia combinada não funcione em todos os pacientes com recidiva extra-medular, fomos capazes de poupar uma proporção substancial pacientes de serem submetidos a uma terapia prejudicial”.
Fonte: St. Jude Children’s Research Hospital