Kastelo já abriu portas para prestar cuidados continuados e paliativos pediátricos

A primeira Unidade de cuidados continuados e paliativos pediátricos no país, o Kastelo, foi inaugurada na passada sexta-feira, 24 de junho, em S. Mamede de Infesta (Matosinhos).
A inauguração, que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, marca a primeira pedra na disponibilização de cuidados continuados e paliativos pediátricos.
Construído num antigo palacete, o Kastelo foi pensado ao pormenor para acolher temporariamente crianças que sofrem com doenças graves e incuráveis, algumas em fase terminal. 
Um jardim, uma horta biológica, um pomar e uma pequena quinta por onde se passeiam ovelhas, patos e coelhos e até um burro, são alguns dos espaços criados para acolher estas crianças e jovens até aos 17 anos e as suas famílias.
Teresa Fraga, presidente da associação Nomeiodonada e enfermeira especializada em cuidados intensivos pediátricos no Hospital de Santo António, no Porto, sublinha que “a filosofia do Kastelo é dar vida aos dias das crianças e não dias à vida”.
A primeira criança a chegar ao Kastelo é um menino de 12 anos que sofre de uma doença crónica complexa e estava há 11 meses internado no Centro Materno-Infantil do Norte.
Embora se trate de uma unidade de saúde, o espaço pretende afastar-se deste conceito e, por isso, todas as divisões foram criadas para que as crianças e as famílias se sintam em casa. Neste sentido, não existe um refeitório, mas sim uma “sala de jantar”, os enfermeiros e auxiliares vestem t-shirts e as paredes foram decoradas com bonecos. A “sala de terapias” está equipada com tudo o que é necessário para exercitar as crianças e os quartos têm todos abertura para os jardins.
A pensar nos pais que vão poder acompanhar de perto os seus filhos, foram criadas uma biblioteca e duas salas de formação e, no jardim, nasceu um espaço recatado para que os pais possam “chorar”. 
José Couceiro, diretor financeiro da Associação no meio do nada, que ajudou a erguer o espaço, reforça que “em nenhum idioma existe um vocábulo para expressar a perda de um filho”, mas assegura que, no Kastelo, todos estão preparados para dar apoio no luto.
Ao todo, a unidade conta com 30 camas mas, destas, apenas 20 serão custeadas pelo Ministério da Saúde, numa experiência-piloto que custará cerca de 700 mil euros por ano. 
Para Ana Lacerda, pediatra e oncologista do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil de Lisboa (IPO de Lisboa), o Kastelo é uma iniciativa “excelente”, mas defende que é urgente pensar num plano a nível nacional, pois, em Portugal, são cerca de seis mil as crianças e jovens que todos os anos precisam de cuidados paliativos. 
Por seu lado, Manuel Capelas, da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, sublinha que é urgente que se crie um “planeamento estratégico”, numa fase em que se está a partir quase do zero nos cuidados continuados e paliativos pediátricos em Portugal.
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