“Juntos, podemos vencer o cancro infantil”

Às vezes precisamos de dar um salto de fé e acreditar que as nossas ações têm impacto.

Quando fui convocado para ser jogador dos Seattle Seahawks, em abril de 2012, estava a viver um ponto de viragem na minha vida. Mas, na verdade, e sem saber, esse ponto de viragem já tinha acontecido na minha vida, há alguns anos atrás.

No início da minha adolescência eu era aquele rapaz que arranjava confusão, que fazia bullying a outras crianças e que conhecia, demasiado bem, o escritório do diretor da escola; mas, à medida que fui ficando mais velho, senti um profundo desejo de encontrar um novo caminho.

Procurei pessoas que me poderiam aconselhar e ajudar-me a criar um novo rumo para a minha vida. Foi aí que redescobri os meus pais que, ao estarem presentes quando eu mais precisava, tornaram-se a minha bússola.

Os mais pais estavam sempre a ajudar outras pessoas, fosse na igreja, na rua, quando encontravam um sem abrigo. A missão deles era a de retribuir o bom que a vida lhes tivesse dado, mesmo que, pelo meio, tivessem enfrentado grandes obstáculos.

O jogador começou a visitar crianças internadas em 2013. – Fonte: DR

Nunca fomos uma família endinheirada, com tudo à disposição. Vezes houve em que nem água quente tivemos em casa. A luta por um futuro melhor era diária mas, mesmo assim, os meus pais sempre se preocuparam com o bem estar daqueles que tinham ainda menos do que nós.

“O nosso sucesso não é medido pelo dinheiro, e sim por quantas pessoas conseguimos ajudar”, costumava dizer o meu pai.

Foi esse o seu grande ensinamento: agradecer tudo o que vida nos dava e retribuir.

Hoje, o meu grande sonho é ser capaz de ser uma boa influência para outras pessoas, de criar impacto. Quero ser capaz de mostrar a algumas crianças que elas são capazes de tudo, mesmo que, na altura, não o percebam.

Foi muito difícil superar a perda do meu pai em 2010.

Rodeei-me de pessoas que amava e em quem confiava. E todos os dias lembrava-me das palavras do meu pai “Podes ser tu”… percebi ali, só depois de ele partir, que ele não se estava a referir a notas da escola ou que “podia ser eu o melhor jogador em campo”. “Podes ser tu…” significava que podia ser eu a fazer a diferença na vida das pessoas.

“A quem muito foi dado, muito será exigido” (Lucas 12:48) é uma frase que aparece na Bíblia e que significa que somos todos responsáveis ​​pelo que temos. Se somos abençoados com talentos, riqueza, conhecimento ou tempo, espera-se que beneficiemos os outros.

Quando eu viajo, encontro-me frequentemente com crianças, internadas em hospitais com as mais diversas doenças, incluindo cancro. Vejo-as a olharem para mim com admiração, mas o que elas não sabem é que eu é que as admiro, pela inspiração que elas me dão.

Hoje em dia, Russell Wilson é um dos principais aliados da luta contra o cancro infantil. – Fonte: West2East Empire

Quando fui convocado para fazer parte da equipa principal dos Seattle Seahawks, sabia que tinha de encontrar uma maneira de retribuir aquela bênção que me estava a ser dada.

Para além de a minha mãe ser enfermeira, eu passei muito tempo em hospitais quando o meu pai adoeceu. Percebi ali que aquilo era um sinal, um desígnio para eu trabalhar perto de pessoas que estão numa fase menos boa da vida.

Essa convicção levou-me a fazer voluntariado no Seattle Children’s Hospital. Todas as semanas lá estava eu, a visitar, ouvir e apoiar aquelas crianças. Eu não tinha a certeza se era aquilo que devia fazer, mas dei o meu salto de fé, acreditando que teria impacto na vida daquelas crianças.

Sempre que entro dentro daquele hospital, vejo crianças corajosas, com um sorriso de orelha a orelha; um sorriso que me inspira e que me dá esperança, por mim e por elas.

Uma dessas crianças, em particular, foi Milton Wright, um jovem que conheci em 2013. Nunca me vou esquecer de entrar no seu quarto de hospital e vê-lo ali, a lutar contra o cancro.

O Milton tinha 19 anos e estava ligado a uma infinidade de tubos. Mas aquela situação não era nova para ele: aquele guerreiro já tinha enfrentado duas vezes a leucemia, primeiro aos 8 anos e depois, novamente, aos 14.

Entrei no quarto, saí e voltei a entrar. Contei-lhe a história da minha vida e a do meu pai. Disse-lhe que os médicos tinham dado apenas 18 horas de vida ao meu pai, e que ele conseguiu viver por mais 3 anos.

“Podes ser tu, Milton”, disse-lhe, recordando as palavras do meu pai, quando ele me contou que os seus oncologistas queriam sujeitá-lo a uma terapia nova com células T.

Mal sabia eu que, ao dizer aquela frase, estava a mudar a vida de duas pessoas: a minha e a do Milton.

Todos nós temos a capacidade de mudar as gerações futuras. Eu vi milagres a acontecerem porque a convicção e o amor coexistiram.

Hoje, passados 6 anos, o Milton continua no Seattle Children’s Hospital, mas não como paciente. Atualmente, este meu herói trabalha naquela instituição e é um símbolo de esperança para aqueles que, tal como ele um dia, lutam contra o cancro.

Em 2014, juntamente com a sua mulher, a cantora Ciara, Russel criou Why Not You Foundation. – Fonte: West2East Empire

Também a minha vida mudou muito nestes últimos 6 anos. Hoje, para além de ser porta-voz do Strong Against Cancer, criei, em conjunto com a minha mulher, a Why Not You Foundation, cujo nome se baseia nos ensinamentos do meu pai.

Acredito que, cada um de nós, de forma individual, podemos fazer a diferença. Mas sei que todos juntos, a diferença será maior.

É esse o objetivo da Why Not You Foundation, o de influenciar, mudar e causar um impacto maior. Queremos fazer ajudar a criar uma mudança no mundo, uma criança de cada vez.

E se pudéssemos curar o cancro pediátrico enquanto formos vivos? E se nos conseguirmos unir em prol de uma causa que pode afetar qualquer criança neste mundo?

Eu acredito que, juntos, podemos.

Texto redigido por Russell Wilson, quarterback dos Seattle Seahawks e fundador, juntamente com a sua mulher, da Why Not You Foundation.

Fonte: Seattle Times

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