Jovens adultos sobreviventes de cancro infantil têm maior risco de fratura

Uma investigação publicada na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology concluiu que adultos com idades entre os 18 e os 45 anos que sobreviveram ao cancro infantil registaram um risco três a cinco vezes maior de ter uma fratura do que adultos da mesma idade e sexo na população em geral.

Entre os sobreviventes de cancro pediátrico adultos mais jovens que foram avaliados durante este estudo ao nível da densidade mineral óssea (DMO), 36% tinham DMO baixa em qualquer local e 9,6% tinham DMO muito baixa em qualquer local.

Vários fatores de risco modificáveis – deficiência da hormona do crescimento, hipogonadismo, hipertireoidismo, baixa atividade física, baixa ingestão de cálcio na dieta, deficiência grave de vitamina D, deficiência de vitamina B12 e deficiência de ácido fólico – foram associados a baixa DMO ou a muito baixa DMO na idade adulta jovem ou primeira fratura vertebral num período igual ou superior a cinco anos após o diagnóstico de cancro na infância.

Verificou-se também que o tratamento do cancro com altas doses de carboplatina foi um fator de risco para DMO baixa nessa população.

“As nossas descobertas destacam a importância da vigilância da DMO em sobreviventes de alto risco [de cancro infantil], isto é, tratados com radiação na zona craniana, cranioespinhal ou total do corpo)”, escrevem os autores do estudo.

Além disso, os dados “sugerem que uma vigilância mais intensiva de distúrbios endócrinos pode ser recomendada, conforme indicado pelo Grupo Internacional de Harmonização de Diretrizes de Efeitos Tardios do Cancro Infantil, porque intervenções oportunas para sobreviventes de cancro com distúrbios endócrinos (incluindo hipertireoidismo) e suplementação de cálcio, deficiências de vitamina D, vitamina B12 e ácido fólico podem melhorar a saúde óssea”, acrescentaram os investigadores.

Apesar dos resultados obtidos, os investigadores afirmam que é preciso avaliar, “em futuros estudos prospetivos ou de intervenção”, os dados desta investigação. 

Desenvolver recomendações de vigilância óssea para sobreviventes de cancro infantil é “desafiador por várias razões”, afirmaram os cientistas Cornelia S. Link-Rachner e Tilman D. Rachner, da Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha.

Os sobreviventes podem não ser vistos regularmente por especialistas quando se tornam adultos e informações relacionadas com interferência na saúde óssea, como radiação, quimioterapia ou esquema de corticosteroides administrados podem ser perdidas.

Além disso, vários dos fatores de risco modificáveis para baixa densidade mineral óssea e fraturas identificados no estudo atual, incluindo hipogonadismo, deficiência da hormona do crescimento, distúrbios da tireoide, deficiência de vitamina D, deficiência de vitamina B12 e baixa atividade física, são normalmente tratados por endocrinologistas, mas podem não ser o foco dos oncologistas.

“Num cenário ideal, um sobrevivente de cancro infantil iria a uma consulta de endocrinologia no momento em que deixa os cuidados pediátricos, para permitir que o endocrinologista faça um plano individualizado com o paciente de acordo com o seu perfil de risco (ou seja, check-up inicial e controlo a cada x anos)”, defendeu Rachner em declarações ao Medscape Medical News.

“Proporíamos a todos os adultos jovens que sobreviveram ao cancro infantil a realização de um teste de DMO para avaliar os seus valores basais e outros testes, dependendo dos resultados e do perfil de risco”, acrescentou, frisando que “encorajaria cada sobrevivente a fazer pelo menos um check-up endócrino”.

A maioria, senão todas as diretrizes de osteoporose não reconhecem adequadamente o cancro infantil como um fator de risco para o desenvolvimento desta doença óssea, explica Rachner, e o estudo atual destaca a necessidade de atualizar as diretrizes para aumentar a consciencialização desse risco. “Sinto que este é um problema clínico altamente subestimado”, afirmou o especialista Rachner, acrescentando que ficou surpreso ao saber da magnitude do aumento do risco” registado na investigação.

As descobertas “reforçam a necessidade de estudos randomizados controlados bem conduzidos para verificar quais intervenções terapêuticas têm um impacto significativo na redução de fraturas em sobreviventes de cancro infantil”, concluíram os autores do estudo.

Embora a baixa DMO esteja associada a fraturas em adultos mais velhos, essa associação é menos bem estabelecida em adultos mais jovens, incluindo sobreviventes de câncer infantil, observaram ainda os investigadores.

Durante o estudo, foram analisados dados de 2 003 indivíduos. Os participantes tiveram um diagnóstico de cancro antes dos 19 anos de idade e foram tratados em um dos sete centros holandeses de oncologia pediátrica entre 1963 e 2001. Eles tinham entre 18 e 45 anos de idade em 2016 (idade média de 33 anos) e 48% eram do sexo feminino.

Fonte: Medscape Medical News

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