Depois de, aos 20 meses de idade, o seu filho ter sido diagnosticado com um neuroblastoma, Melissa e Michael Wiggins souberam que o futuro que tinham imaginado construir juntos teria de ficar em suspenso.
Ao terem de enfrentar a terrível realidade do tratamento do cancro infantil, o casal viu-se sem quaisquer certezas para o futuro.
Mas esta família não se ficou pelas lamentações e decidiu fazer alguma coisa; assim, em 2014, os Wiggins criaram a Cannonball Kids Cancer Foundation. Desde aí, esta fundação já angariou mais de 300 mil dólares (cerca de 262 mil euros), que serviram para financiar ensaios clínicos, na procura por tratamentos que causassem menos dor e sofrimento a crianças que lutam contra o cancro.
Mas voltemos ao início…
A jornada da família Wiggins começou quando a mãe Melissa levou o pequeno Cannon, na altura com 20 meses, ao médico, depois de este ter começado a mancar; o pediatra não deu muita importância ao assunto, mas Melissa sabia que algo não estava bem.
Decidida a saber o que se passava, Melissa consultou um especialista em ortopedia que suspeitou que o pequeno Cannon sofria de uma infeção na perna.
Cannon foi submetido a uma série de exames, e depois de muitas horas de antecipação, o ortopedista deu as piores notícias que os pais esperam ouvir: “Eu acho que o seu filho tem um neuroblastoma”.
Confusa, e sem saber o que aquele palavrão significava, o mundo de Melissa desabou quando o médico lhe explicou e ela ouviu a palavra “Cancro”.
“Naquele instante, a bolha feliz em que nós vivíamos desapareceu. Desapareceu no segundo em que o cancro entrou nas nossas vidas”, relembra.
No dia seguinte, as suspeitas confirmaram-se. Cannon foi diagnosticado com neuroblastoma estágio IV, o que significava que o tumor se havia espalhado pelos seus gânglios linfáticos e outras partes do corpo.
Depois de ficar acordada a noite toda a pesquisar sobre aquela maldita doença de que nunca sequer tinha ouvido falar, Melissa quis voltar a falar com o médico para lhe fazer uma pergunta: “O meu filho não vai morrer, pois não?”
O médico disse que Cannon tinha 50% de probabilidade de sobreviver, embora isso não fosse nada fácil, dada a longa e dura luta que tinha pela frente.
Mas Melissa e Michael, como sempre, escolheram ver o copo meio cheio e viram naquele número a esperança.
O caso de Cannon não é incomum, pois na altura do diagnóstico de neuroblastoma, em cerca de 80% dos casos o cancro já se encontra com metástases.
Devido ao estado avançado da doença, Cannon foi sujeito a muitos tipos de terapia: quimioterapia, cirurgias, transplantes de células estaminais, radioterapia e terapia com anticorpos. Todos estes tratamentos deixaram o menino fraco, pálido e com dores terríveis.
“Eu quase tremia de raiva e sentia os meus olhos a carregarem-se de lágrimas quando via o meu filho a sofrer, quando o via a chorar porque, mais uma vez tinha que levar uma injeção, ou mudar a agulha intravenosa. Chorava quando o via cheio de náuseas por causas dos tratamentos, ou quando via os seus olhos a revirarem-se de cada vez que recebia morfina para diminuir a dor. Não aguentava vê-lo sem comer ou a tropeçar nele próprio porque as suas pernas não tinham força. E partia-me o coração quando, de tão fraco que estava, o via a ficar dias na cama”, contou, emocionado, Michael.
Embora todos os tratamentos e terapias ofereçam uma hipótese aos doentes de lutar, os seus efeitos secundários podem alterar o rumo de uma vida.
Os medicamentos quimioterápicos diluídos que Cannon recebeu foram projetados para adultos. De tão fortes, a audição de Cannon foi permanentemente prejudicada e todos os seus dentes caíram. Ele nunca vai crescer como uma criança dita normal e nunca poderá ter filhos. E embora tudo isso possa parecer secundário porque, apesar de tudo, a criança está viva, os Wiggins não conseguiram ultrapassar o sentimento de impotência.
Melissa e Michael Wiggins observaram o seu filho sangrar de dentro para fora e ouviram os seus gritos contínuos, apesar de toda a medicação para a dor.
Eles sabiam que tinha de haver outro caminho, e juraram que o iriam encontrar.
E assim nasceu a Cannonball Kids Cancer Foundation, uma fundação cujos objetivos são aumentar a consciencialização sobre o fato de que crianças com cancro, na maioria das vezes, não são tratadas com tratamentos direcionados a elas e que é necessário angariar dinheiro para mudar isso.
De acordo com childcancer.org, 1 em cada 330 crianças será diagnosticada com cancro antes dos 19 anos.
O cancro é o assassino número 1 das crianças, e mais crianças morrem por esta doença do que o total de pessoas que morrem de fibrose cística, defeitos congénitos de nascimento, asma, diabetes e sida combinadas.
No entanto, nos Estados Unidos, menos de 4% do orçamento para a pesquisa do cancro é dirigida à oncologia pediátrica.
“Não é justo que, nos últimos 20 anos, tenham sido aprovados apenas 3 medicamentos para o tratamento do cancro infantil. E é isso que a Cannonball Kids Cancer Foundation quer mudar”, afirmou Melissa.
Desde a sua criação, a Cannonball Kids Cancer Foundation já financiou cinco ensaios clínicos que tentam encontrar novas opções de tratamento concebidas especificamente para crianças, para que estas sofram menos e tenham uma melhor qualidade de vida.
O primeiro ensaio está relacionado com uma imunoterapia que tem o potencial de mudar a forma como cancros cerebrais, e outros, serão tratados no futuro.
“A imunoterapia trata o cancro recrutando o próprio sistema imune do corpo para procurar especificamente as células cancerígenas e eliminá-las, idealmente deixando o tecido normal intacto. A imunoterapia é mais natural e potencialmente menos tóxica do que a quimioterapia de alta dosagem, e é provável que funcione melhor em crianças porque os seus sistemas imunes subjacentes são mais fortes do que os sistemas imunes de adultos”, disse um dos investigadores desta pesquisa, que está a ser feita em parceria com a Universidade Georgia Regents.
O Emmi Grace Applesauce Trial foi o segundo estudo a contar com a ajuda monetária da fundação, que permitiu que investigadores testassem a eficácia de um medicamento experimental contra um cancro cerebral.
A fundação também financiou outro estudo relacionado com a imunoterapia, em julho de 2016, que envolveu uma componente especial de transplante de células estaminais. Neste ensaio, os participantes foram tratados com um transplante de células estaminais recolhidas de um dos seus pais. As células são preparadas de uma maneira nova que permite que células imunes úteis sejam transplantadas juntamente com as células estaminais para ajudar a combater a infeção e eliminar as células cancerígenas remanescentes.
“Estamos muito gratos pelo apoio que esta fundação tem dado ao nosso estudo clínico; esta é uma fundação que percebe que a falta de financiamento atrasa o processo de encontrar novos e melhores tratamentos que sejam menos tóxicos para crianças com cancro”, afirmou um investigador da Universidade de Wisconsin-Madison, que também beneficiou do apoio da Cannonball Kids Cancer Foundation.
De volta aos Wiggins, e após 14 meses de luta, Cannon entrou em remissão.
Hoje, e por terem vivido de perto o “inferno” que é o cancro infantil, os Wiggins querem ser uma voz de inspiração para todos aqueles que passam, e passarão, pelo mesmo que eles.
Fonte: Scary Mommy