Devido aos avanços nos tratamentos, cada vez mais pessoas conseguem viver como sobreviventes de cancro metastático, o que coloca os investigadores numa situação cada vez mais desafiadora.
Antigamente, quando alguém era diagnosticado com cancro metastático, era-lhe dito pelos médicos que aproveitasse o resto da vida que tinha disponível, mas hoje, com avanços na pesquisa, um diagnóstico de doença metastática já não é uma sentença de morte.
Muitos desses pacientes, que teriam morrido num curto espaço de tento, vivem hoje muito mais anos; embora essa questão não seja tão simples quanto parece.
Dois investigadores da Johns Hopkins Kimmel Cancer Center, nos Estados Unidos, conhecem bem essas dificuldades.
Terry Langbaum, uma das investigadoras, sobreviveu a vários diagnósticos de cancro e conhece, em primeira mão, os desafios e as complicações que acompanham a vida de uma sobrevivente.
Num estudo publicado no New England Journal of Medicine, Terry e Thomas Smith, médico oncologista com cancro da próstata recorrente, abordaram os desafios enfrentados por aqueles que vivem com cancro metastático.
“Os sobreviventes de longo prazo com cancro metastático não têm sido bem estudados”, disseram os autores.
No artigo, os investigadores compartilham exemplos altamente pessoais da demanda urgente por uma maior consciencialização sobre as necessidades desta população de sobreviventes.
5 meses depois de ser sujeito a um bloqueio total de andrógenos, Thomas Smith experimentou um retorno rápido e severo de uma depressão que havia sofrido décadas antes. Desta vez, as mudanças de humor severas e os pensamentos suicidas levaram o médico ao hospital.
Os membros da sua equipa ficaram surpresos ao descobrir que este tratamento comum para o cancro da próstata aumenta o risco relativo de depressão dos pacientes em 41%.
Após a depressão, seguiu-se a um ataque isquémico transitório grave e potencialmente fatal, possivelmente devido ao seu tratamento, bem como meses de ondas de calor graves e insónias devido à privação androgénica.
O oncologista espera que colegas recebam estas advertências e tentem evitar ou, pelo menos, minimizar as consequências.
Para o médico, este incidente forneceu um exemplo surpreendente de como os pacientes, mal preparados, e os seus cuidadores podem enfrentar esta nova fronteira da sobrevivência ao cancro metastático, que apresenta uma mistura de esperança e incerteza para os pacientes, famílias e cuidadores.
Além das questões médicas, os investigadores ressaltam que os pacientes sobreviventes também precisam de lidar com cargas contínuas, sejam elas psicossociais, financeiras, emocionais ou físicas.
Essas cargas têm sido abordadas por Lillie Shockney, uma investigadora que tem vindo a estudar a melhor forma de ajudar as pessoas a enfrentar estes desafios.
Além de abordar os encargos imprevistos enfrentados por um número crescente de sobreviventes, os autores também apresentam algumas estratégias possíveis para facilitar esta jornada: nelas, incluem-se o desenvolvimento de mecanismos que ajudem a enfrentar outras condições crónicas; o fornecimento de terapia para ajudar a diminuir os sentimentos de desespero dos pacientes; oferecer mecanismos de apoio aos pacientes e seus cuidadores; e coordenar a gestão de cuidados entre profissionais de cuidados primários, oncologia e cuidados paliativos para melhorar a experiência do paciente.
“Acreditamos que chegou a hora de estudar os sobreviventes de cancro e educar melhor a comunidade médica sobre as necessidades e desafios desta crescente população”, afirmaram os autores.
Fonte: Eurekalert