“Nunca desistas de lutar. E enquanto lutas, celebra todas as vitórias.”
Estas palavras transformaram-se num mantra para a família Shaw, depois da sua filha Jenny ter sido diagnosticada com um tumor de Wilms, uns dias antes do seu sétimo aniversário, em agosto de 2017.
Scotesha Shaw, a mãe de Jenny, apercebeu-se que a sua filha tinha dois caroços na zona do abdómen enquanto lhe dava banho. Apreensiva, a mulher contou ao seu marido, Mike, e, depois de algumas pesquisas, decidiram levar Jenny até ao hospital mais próximo, o Strong Memorial Hospital, nos Estados Unidos.
Quatro horas e um sem fim de exames depois, 2 médicos apareceram junto à cama de hospital de Jenny, onde, “de forma muito casual”, recorda Scotesha, “explicaram que a Jenny poderia ter cancro”.
“Eu olhei para a Scotesha, ela olhou para mim e foi como tempo se o tempo tivesse simplesmente parado”, recorda Mike.
Alguns dias depois, a família Shaw recebeu a confirmação: Jenny tinha sido diagnosticada com tumor de Wilms. O tumor, a forma mais comum de cancro renal em crianças, havia metastisado para o fígado.
Quase de forma imediata, Mike e Scotesha assumiram uma atitude positiva e só pensaram que a sua filha ia ultrapassar aquela doença.
Nos dias a seguir ao diagnóstico, a sua oncologista, Suzie Noronha, foi questionada sobre quais as etapas do tratamento, os efeitos secundários, alimentação, de forma a que a família “começasse a planear toda a sua vida em prol da Jenny”.
Ao mesmo tempo que os pais processavam toda aquela informação nova, a menina pensava “em maneiras de ajudar outras crianças que estavam a passar pelo mesmo que ela”, conta a médica.
“Foi uma vontade que lhe surgiu espontaneamente. Apercebi-me que era natural para a Jenny querer ajudar outras pessoas – e isso é algo único. É notável que, mesmo tão nova, a Jenny seja uma criança tão proativa e bondosa”, afirmou.
Enquanto esteve internada no Golisano Children’s Hospital, Jenny apercebeu-se que sentia a falta de coisas simples, como o seu cobertor aconchegante ou alguns dos seus brinquedos preferidos.
Quando contou ao seu pai, os dois tiveram uma ideia: criar bolsas de cuidados para outras crianças com bens comuns, mas que muitas vezes são esquecidas: mantas, bonecos, escovas de dentes.
Com o passar dos dias, enquanto Jenny fazia o tratamento, Mike e Scotesha observaram todas as outras crianças ali internadas, e ficaram de coração partido. Custou-lhes ver crianças que não podiam ter ali os pais, porque estes estavam a trabalhar e não tinham como estar sempre ao lado dos seus filhos.
Num dos dias, Mike ficou perplexo quando viu uma enfermeira com uma criança ao colo; na cabeça de Mike, era um pouco estranho que uma enfermeira trouxesse o filho para o trabalho. Mas aquela criança era, na realidade, um paciente com cancro, tal como a sua filha, avisou Scotesha.
Como o hospital onde Jenny fez os tratamentos não fornecia serviços a localidades bem distantes, algumas pessoas necessitavam de conduzir durante horas para chegar ao hospital; muitas vezes, nem todos os pais podiam tirar uma licença prolongada do trabalho para permanecer no hospital, de modo que os enfermeiros e a equipa do hospital assumiam um papel de substituto inadvertido.
“A ideia da Jenny surgiu por causa daquelas crianças que estavam ali sozinhas. Ela queria dar-lhes um pouco de conforto, aquele conforto que só temos quando estamos em família”, conta Mike.
As bolsas com presentes eram uma maneira de todos juntos conseguirem ultrapassar aqueles tratamentos.
“Nós somos apenas uma família, mas existem milhares de famílias que já enfrentaram, ou estão a enfrentar, o cancro infantil”, recorda Mike.
Os Shaw organizaram uma ação de angariação de fundos online que, em quase 2 anos, já arrecadou mais de 7 mil dólares (cerca de 6 200 euros), que serviram para doar mais de 200 bolsas com presentes para os pequenos pacientes do Golisano Children’s Hospital.
Em abril de 2018, Jenny terminou os tratamentos e foi declarada livre de cancro.
Um ano depois, a jovem e os seus pais continuam a comemorar os resultados de cada exame de rotina como se fosse a coisa mais importante do mundo, pois o que esta família menos quer é que Jenny tenha uma vida livre de cancro, medicamentos e hospitais.
Há cerca de duas semanas atrás, Mike observou Jenny a saltar no seu trampolim situado no quintal da casa. Naquela tarde solarenga, ao ver a sua filha, Mike nem queria acreditar que, há menos de 1 ano, ela estava internada num hospital.
“Nós somos uns sortudos”, diz, emocionado o pai de Jenny.
“Tivemos a sorte de termos sido abençoados e sabemos disso, pois muitas crianças não têm a sorte que a Jenny teve”.
“Graças a isto, aprendemos a celebrar cada vitória que a vida nos dá, por mais pequena que ela seja.”
Fonte: Democrat and Chronicle