Uma nova investigação publicada na revista JAMA Oncology retratou de que forma duas alterações distintas no ADN parecem prever o desenvolvimento de leucemias infantis agressivas quando ocorrem em combinação.
Ao longo de uma década, cientistas internacionais avaliaram as características de tumores de mais de 1 300 pacientes com cancro infantil que foram diagnosticados com leucemia linfoblástica aguda de células B, um tipo de cancro que afeta os glóbulos brancos do sangue da medula óssea.
De acordo com a Leukemia & Lymphoma Society, a leucemia linfoblástica aguda é o tipo de cancro mais comummente diagnostico em crianças.
Nesta investigação, os cientistas tentaram compreender melhor as características genéticas desta doença em crianças com os piores prognósticos, incluindo recidiva e / ou morte; para isso, a equipa explorou o ADN das células de leucemia para examinar mudanças comuns.
“Encontrámos uma área quase impercetível de ADN, conhecida como 22q11.22, ausente em cerca de 30% a 40% dos pacientes pediátricos com leucemia linfoblástica aguda de células B”, explicou o investigador Joshua Schiffman, da Universidade do Utah, nos Estados Unidos.
“Começámos a questionar-nos de que forma uma parte tão pequena do ADN podia afetar a sobrevivência?” – a partir desse momento, a equipa focou-se num gene muito mais conhecido na leucemia infantil, chamado IKZF1.
“As mudanças no IKZF1 intrigam os médicos há algum tempo”, começou por dizer Luke Maese, outro dos cientistas envolvidos na investigação. “Sabemos há mais de uma década que as mudanças no IKZF1 preveem um resultado muito mau em alguns, mas não em todos os pacientes.”
Os cientistas começaram a investigar se essa parte ausente de 22q11.22 poderia funcionar em conjunto com as alterações de IKZF1 para prever resultados de uma maneira mais confiável.
“E foi assim que descobrimos que os pacientes com a deleção 22q11.22 e as alterações IKZF1-; conhecidos coletivamente como uma ‘deleção dupla’ – tiveram alguns dos piores resultados na leucemia infantil”.
A equipa descobriu que os pacientes que já tinham uma alteração IKZF1 tinham quase duas vezes o risco de recidiva se eles também tivessem uma deleção na região 22q11.22.
Os cientistas utilizaram técnicas sofisticadas de análise genómica para avaliar as alterações hereditárias e ambientais nos tumores de crianças com leucemia linfoblástica aguda de células B.
Foram avaliadas informações genómicas de pacientes com cancro infantil de vários países; a amostra incluiu pacientes com leucemia infantil que tinham síndrome de Down, um grupo que apresenta maior risco de leucemia.
“Ao longo de todos estes anos, nunca deixámos de tentar entender como esta exclusão do 22q11.22 poderia afetar as crianças com leucemia. Recolhemos dados de muitos ensaios clínicos diferentes para garantir que essa descoberta fosse real e reproduzível. As nossas descobertas são significativas porque descobrimos que a probabilidade de recidiva e morte foi consistente em várias amostras diferentes de crianças com leucemia linfoblástica aguda de células B, incluindo crianças com síndrome de Down”, disse David Spencer Mangum, outro dos cientistas envolvidos na investigação.
A equipa investigadores espera que esta descoberta possa ajudar na compreensão de novos detalhes e no desenvolvimento de novos tratamentos para a leucemia infantil.
Por exemplo, a frequência da deleção focal 22q11.22 indica que pode ser importante para o desenvolvimento de leucemia, e a associação combinada com piores resultados significa que pode ser um marcador de prognóstico clínico útil no futuro.
“Crianças com leucemia duplamente deletada podem precisar de mais tratamentos ou de serem submetidas a transplantes de medula óssea imediatamente após o diagnóstico; enquanto crianças sem deleção dupla podem requerer quimioterapia menos tóxica que lhes permitam, na mesma, alcançar bons resultados”.
Fonte: News Medical