Para pacientes com neuroblastoma, um dos tumores sólidos mais comuns em crianças, os resultados da doença podem variar amplamente. Algumas crianças enfrentam um prognóstico bastante bom, com taxas de sobrevivência superiores a 80 por cento. No entanto, alguns neuroblastomas possuem características genéticas que tornam a doença particularmente agressiva e propensa à disseminação metastática. A taxa de sobrevivência para estes cancros de alto risco é drasticamente mais baixa, aproximadamente 30 por cento.
Agora, investigadores da Universidade da Colúmbia Britânica e do BC Cancer, no Canadá, identificaram um gene até então desconhecido que impulsiona o comportamento agressivo do neuroblastoma de alto risco. As descobertas, publicadas recentemente na revista Science Advances, poderão oferecer novas possibilidades para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra este tipo de tumor.
“O neuroblastoma é responsável por 13 por cento de todas as mortes relacionadas com o cancro pediátrico”, disse o Dr. Poul Sorensen. “Compreender por que algumas formas deste cancro são tão agressivas e espalham-se rapidamente é fundamental para o desenvolvimento de tratamentos melhores e direcionados que melhorem os resultados para as crianças de maior risco”, enfatizou.
Os cientistas já sabiam que um gene específico, chamado MYCN, é uma característica definidora do neuroblastoma de alto risco. Os tumores que transportam um grande número de cópias do gene MYCN produzem em excesso proteínas que permitem que o cancro se espalhe para outros tecidos. Os médicos, muitas vezes, realizam testes para determinar se o tumor de uma criança tem essas características genéticas e adaptam os planos de tratamento em função disso.
Neste novo estudo, o Dr. Sorensen e a sua equipa queriam saber se existem outros genes que também contribuem para esse comportamento agressivo do tumor.
“Foi amplamente assumido que o gene MYCN era o único condutor genético do neuroblastoma agressivo que transportava cópias excessivas de MYCN. Decidimos descobrir se havia mais algum fator desconhecido a influenciar a equação”, disse o Dr. Haifeng Zhang.
A análise revelou que outro gene, denominado GREB1, “vizinho” do gene MYCN, também desempenha um papel crítico no neuroblastoma de alto risco. Os investigadores descobriram que o GREB1 é frequentemente co-expresso com o MYCN e desencadeia a sua própria via independente que permite ao neuroblastoma crescer de forma agressiva, invadir tecidos próximos e espalhar-se para outras partes do corpo.
“Estes genes são como parceiros no crime, são expressos em conjunto e cada um deles desencadeia o seu próprio caminho molecular que alimenta o comportamento agressivo”, explicou Haifeng Zhang. “Foi surpreendente descobrir que estes dois genes, localizados em partes diferentes, mas próximas do mesmo cromossoma, influenciam a expressão um do outro, levando a esta ligação inesperada e até então desconhecida”, acrescentou.
Um potencial novo alvo de tratamento
Quando analisaram mais aprofundadamente, os cientistas descobriram uma série de alterações celulares complexas que são controladas pelo GREB1. Nomeadamente, que o GREB1 desencadeia a expressão de outro gene chamado Miosina 1B (MYO1B), que potencia a capacidade do tumor de invadir células próximas e metastatizar. Além disso, o MYO1B promove a produção de proteínas do tumor que impulsionam o crescimento do cancro, a formação de vasos sanguíneos e a disseminação metastática para outros tecidos.
“A doença metastática está amplamente associada a maus resultados para os pacientes porque as estratégias de tratamento atuais são muitas vezes ineficazes no controlo do crescimento de lesões metastáticas”, disse a Dra. Karla Williams.
“Compreender como as células tumorais se espalham e se desenvolvem em lesões metastáticas mortais é fundamental para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para melhorar os resultados dos pacientes”, acrescentou.
Com uma melhor compreensão dos mecanismos que impulsionam o neuroblastoma agressivo, os investigadores esperam aplicar as descobertas no desenvolvimento de novas terapias que visem esta via.
“Esta descoberta é significativa porque fornece um alvo potencial para o desenvolvimento de tratamentos”, disse o Dr. Zhang. “Isso abre novas possibilidades para atingir a via GREB1 e a via que ele controla, o que poderia oferecer novas abordagens para o tratamento de pacientes com este cancro desafiador”, sublinhou.
As descobertas também podem ter aplicações além do neuroblastoma. O estudo mostrou que mecanismos genéticos semelhantes atuam no meduloblastoma, um tumor cerebral infantil, e investigações anteriores mostraram que o GREB1 impulsiona a natureza agressiva de outros tipos de cancro, principalmente tumores relacionados com hormonas sexuais, incluindo cancro da mama, ovário, próstata e endométrio.
Fonte: MED UBC