Em crianças com rabdomiossarcoma, um cancro raro que afeta os músculos e outros tecidos moles, a presença de mutações em vários genes, incluindo TP53, MYOD1 e CDKN2A, parece estar associada a uma forma mais agressiva da doença e a uma menor taxa de sobrevivência.
Estas foram as conclusões da maior investigação internacional já feita sobre o rabdomiossarcoma, levada a cabo pelo Center for Cancer Research, uma organização fundada pelo National Cancer Institute dos Estados Unidos.
A investigação, publicada no Journal of Clinical Oncology, fornece uma visão sem precedentes dos dados de uma grande amostra de pacientes com rabdomiossarcoma, oferecendo pistas genéticas que podem levar ao uso mais difundido de testes genéticos de tumor para prever de forma pacientes com este tipo de cancro responderão à terapia, bem como ao desenvolvimento de tratamentos direcionados para a doença.
“Estas descobertas podem mudar a forma como olhamos para estes pacientes e vão, de certeza, dar origem a novas investigações que serão importantes para o desenvolvimento de novas terapias que visam estas mutações”, disse Javed Khan, um dos investigadores envolvidos.
“A terapia padrão para o rabdomiossarcoma consiste, geralmente, em um ano de quimioterapia, radioterapia e cirurgia – ou sejas, estas crianças recebem muitos tratamentos e, todos eles, muito tóxicos”, explicou Jack Shern, o investigador principal e membro do Pediatric Oncology Branch do National Cancer Institute.
“Se pudermos prever a resposta destas crianças aos tratamentos, podemos começar a adaptar as terapias ou tentar eliminar aquelas que não vão ser eficazes num paciente específico. No caso de crianças em alto risco, cujo tratamento saberemos que não vai ser eficaz, esta descoberta irá permitir-nos pensar em novas opções”.
O rabdomiossarcoma é o tipo de cancro dos tecidos moles mais comummente diagnosticado em crianças: em pacientes onde não se verificam metástases, as taxas de sobrevivência a 5 anos varia entre 70% e 80%.
Por outro lado, em pacientes com metástases, ou em casos de recidiva, o valor dessa taxa diminui para menos de 30%, mesmo com os pacientes a receberem tratamento agressivo.
Os médicos geralmente usam caraterísticas clínicas, como a localização do tumor, o seu tamanho e até mesmo o local onde se encontram as metástases para prever de que forma os pacientes responderão ao tratamento – contudo, essa abordagem é bastante imprecisa.
Recentemente, cientistas descobriram que a presença do gene de fusão PAX-FOXO1, encontrado em alguns pacientes com rabdomiossarcoma, está associada a uma menor probabilidade de sobrevivência. Atualmente, alguns pacientes já estão a ser testados sobre se possuem esse fator de risco genético, o que ajuda a determinar o quão agressivo o seu tratamento deve ser.
Os cientistas também começaram a usar a análise genética para conhecer mais aprofundadamente o funcionamento molecular do rabdomiossarcoma; isto, acreditam, permite-lhes encontrar outros marcadores genéticos preditores de sobrevivência.
Nesta nova investigação, juntamente com o Institute for Cancer Research do Reino Unido, os investigadores do Center for Cancer Research analisaram o ADN de amostras de tumor de 641 crianças diagnosticadas com rabdomiossarcoma inscritas ao longo de um período de duas décadas em vários ensaios clínicos.
Durante este esforço colaborativo, foram examinadas mutações genéticas e outras anomalias em genes previamente associados ao rabdomiossarcoma.
De acordo com a análise, pacientes com mutações nos genes supressores de tumor TP53, MYOD1 ou CDKN2A mostraram um pior prognóstico do que pacientes sem essas mutações.
Usando técnicas de sequenciação de última geração, os investigadores descobriram uma média de uma mutação por tumor: em pacientes com duas ou mais mutações por tumor, a probabilidade de sobrevivência foi muito baixa.
Em pacientes sem o gene de fusão PAX-FOXO1, mais de 50% tinham mutações nos genes da via RAS, embora as mutações RAS não parecessem estar associadas a piores (ou melhores) resultados de sobrevivência.
Os investigadores acreditam que, embora tenham identificado as principais mutações que podem promover o desenvolvimento de rabdomiossarcoma, isso é só “o início de um grande estudo que tem de ser feito se quisermos definir a genética deste cancro”.
“Ainda há muitas mutações a ser descobertas”.
Os cientistas defendem também que são necessárias mais investigações para que seja possível identificar fármacos direcionados para essas mutações.
“Futuros ensaios clínicos podem vir a incorporar marcadores genéticos para classificar com mais precisão os pacientes em vários grupos de tratamento”, disseram.
Atualmente, dois ensaios clínicos do Children’s Oncology Group estão a ser desenvolvidos de forma a utilizar esses marcadores, sendo que todos os participantes serão examinados para determinar o perfil molecular dos seus tumores.
Os cientistas esperam que o teste genético de tumor de rotina para cancros raros, como o rabdomiossarcoma, seja, em breve, uma parte do tratamento padrão, o que já acontece em alguns dos cancros mais comuns, como é o caso do cancro da mama.
“O teste genético vai tornar-se um padrão de tratamento”, acredita Jack Shern.
Fonte: Medical Xpress