A hiperdiploidia é uma condição genética observada em células cancerígenas, onde as células contêm mais cromossomas do que o normal. A condição é particularmente prevalente na leucemia linfoblástica aguda de células B (LLA-B), o tipo de cancro pediátrico mais comum.
Para esclarecer melhor esta condição, investigadores do St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, trabalharam para definir de forma mais precisa esse tipo de LLA no contexto da terapia moderna para prever com mais precisão os resultados dos pacientes e orientar as decisões de tratamento. As descobertas foram publicadas no Journal of Clinical Oncology.
Atualmente, os centros oncológicos em todo o mundo utilizam pelo menos seis definições diferentes de hiperdiploidia para orientar os protocolos de tratamento, o que leva a resultados variáveis para os pacientes. Embora os médicos concordem que a hiperdiploidia está associada a um resultado geralmente favorável, a definição exata ainda é debatida atualmente.
Estabelecer a classificação ideal de hiperdiploidia pode padronizar o tratamento da LLA-B infantil e garantir que os pacientes com esse tipo de cancro recebam apenas os tratamentos necessários, reduzindo potencialmente os efeitos colaterais da quimioterapia e, ao mesmo tempo, melhorando os resultados a longo prazo.
Melhores previsões, melhor tratamento
Os cientistas do St. Jude compararam os métodos existentes para definir a hiperdiploidia e descobriram que o índice de ADN, uma medida do DNA total nas células leucémicas, poderia efetivamente classificar e prever os resultados da leucemia hiperdiploide.
O índice de ADN permite avaliar de forma mais ampla a população de pacientes hiperdiploides, tornando-se um ponto de partida valioso para aqueles que trabalham em ambientes com recursos limitados que podem ter acesso limitado a métodos mais caros, como o sequenciamento do genoma completo. Esta descoberta é significativa para centros médicos em todo o mundo.
“O índice de ADN parece vantajoso em relação a outros critérios de classificação porque permite identificar de forma eficaz uma proporção significativa de pacientes com prognósticos excelentes que não são assim classificados devido a algumas outras definições hiperdiploides”, explicou o coautor do estudo Jun J. Yang.
Pacientes com bom prognóstico apresentam sensibilidades específicas a medicamentos
Embora o índice de ADN seja altamente eficaz a indicar dados sobre os resultados do tratamento, tem limitações: não consegue identificar os cromossomas específicos que foram obtidos. Este estudo também descobriu que nem todas as trissomias (cromossomas extras) são iguais em termos de influência nos resultados, e algumas têm um impacto mais significativo nesses resultados. Assim, a combinação do índice de ADN com abordagens mais específicas dos cromossomas seria crucial para individualizar ainda mais a terapia para essa população de pacientes.
“A hiperdiploidia não é monolítica. É essencial identificar os ganhos cromossómicos individuais para compreender melhor os seus efeitos”, destacou Yang, acrescentando que “o ganho de cromossomas específicos pode resultar em sensibilidade e resistência variadas aos medicamentos”.
No estudo, os cientistas descobriram uma associação entre ganhos cromossómicos específicos e sensibilidades aos medicamentos anticancerígenos asparaginase e mercaptopurina em pacientes com prognóstico favorável. Ao contrário de estudos anteriores que se concentraram apenas em medicamentos utilizados no diagnóstico inicial, esta investigação também explorou medicamentos administrados posteriormente no tratamento. Essa perspetiva mais ampla fornece informações valiosas sobre a adaptação de tratamentos com base nas características individuais do paciente.
Avaliação dos medicamentos para a leucemia
“A importância deste estudo reside na sua abrangência. Examinámos o espetro de medicamentos usados para tratar a LLA para identificar aqueles que são particularmente eficazes para a LLA hiperdiploide”, disse Yang.
Ao avaliar exaustivamente oito medicamentos e os seus resultados terapêuticos específicos relacionados com a hiperdiploidia, os investigadores alcançaram a compreensão mais abrangente até à data neste âmbito. No entanto, eles reconhecem que ainda há margem para melhorar.
As descobertas do estudo em relação à sensibilidade aos medicamentos sugerem que alguns pacientes podem não precisar de altas doses de certos fármacos para que o tratamento seja eficaz. Como a quimioterapia pode provocar efeitos adversos, a otimização da terapia para doses precisas poderia beneficiar significativamente os pacientes. Essa melhoria começa com a compreensão do panorama genético de cada paciente.
“Não estamos apenas focados em melhorar as terapias, mas também pretendemos torná-las menos intensas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, enfatizou Ching-Hon Pui, coautor do estudo.
Este estudo abre caminho para discussões futuras sobre a definição de populações de pacientes e o avanço da medicina de precisão para o tratamento deste cancro pediátrico hiperdiploide, disseram os cientistas.
Fonte: News Medical