Uma investigação norte-americana encontrou a existência de uma ligação entre um grupo de crianças diagnosticadas com cancro infantil na cidade de Wilmington, no estado de Delaware, na década de 1990 e a rede de água pública contaminada naquela época.
Agora, as 22 famílias cujos filhos foram diagnosticados com cancro entre 1990 e 2000 podem, de acordo com a investigação, afirmar que foi “a água, supostamente potável, que fez com que os seus filhos adoecessem”.
Durante a década de 1990, as autoridades descobriram que a existência de uma exposição pré-natal a N-nitrosodimetilamina, ou NDMA, um composto orgânico utilizado por uma empresa que fabricava produtos químicos, denominada Olin Chemical Corporation, e que, devido a algumas irregularidades, teria contaminado a rede de abastecimento de água da região.
Segundo as autoridades, entre 1982 e 1990 foram diagnosticadas apenas duas crianças com cancro naquela cidade, um número que aumentou para 22 entre os anos de 1990 e 2000: 8 das crianças foram diagnosticadas com leucemia, e outras 3 com linfoma.
Desde 2000, altura em que a empresa cessou funções na região e que a rede de abastecimento foi renovada, que há apenas o registo de um diagnóstico de cancro infantil por ano.
Tendo em conta o elevado número de diagnósticos realizados na época, deu-se início a uma investigação que descobriu a existência de uma associação entre a exposição pré-natal ao NDMA e casos diagnosticados de cancro infantil.
Esta associação foi consistente em várias análises e foi “estatisticamente significativa” quando se tratou de casos de linfoma ou leucemia e exposição a NDMA.
“Os resultados permaneceram consistentes mesmo após o ajuste estatístico para outros possíveis fatores de risco, como exposições durante a gravidez materna ou histórico médico familiar”.
Ainda assim, a tendência foi limitada especificamente à exposição pré-natal – crianças expostas aos produtos químicos não tinham probabilidades aumentadas de desenvolver cancro.
Das 22 crianças que foram diagnosticadas durante esse período, 2 morreram, de acordo com o The Boston Globe.
Após serem conhecidos os resultados da investigação, a “sensação é de alívio por, finalmente, sabermos a verdade”, disse Kathleen Barry, porta-voz de um grupo de famílias afetadas pela cancro infantil.
O estado do Delaware começou a investigar este caso em 1999, depois da população ter pressionado as autoridades de saúde; para descobrir se havia uma relação entre os casos diagnosticados e a exposição aos produtos químicos, o estado norte-americano usou modelos computacionais que ajudaram a descobrir a concentração de produtos químicos nas casas dos populares que participaram na investigação.
“Mesmo apesar de já desconfiarmos desta ligação, ficámos chocados quando tivemos a certeza. É assustador”, continuou Kathleen.
Após as descobertas, a Olin Chemical Corporation criou um fundo que servirá para custear despesas relacionadas com “a educação, a saúde e outras necessidades” das crianças afetadas.
Segundo Kathleen, este assumir de responsabilidades fará com que os pais destas crianças não apresentem queixa contra a empresa.
Atualmente, e de acordo com o presidente da câmara da cidade, a rede de abastecimento de Wilmington já não se encontra contaminada com NDMA, “ou com TCE”, outro composto encontrado durante a investigação que, apesar de não se ter conseguido provar, também pode estar relacionado com os casos diagnosticados de cancro infantil.
“Quero expressar as minhas mais profundas desculpas a todas as famílias afetadas. Não há nada que seja pior do que uma família receber um diagnóstico de cancro infantil”, disse o presidente, Jeffrey M. Hull.
Fonte: Boston Globe