A investigação com recurso ao estudo de cães que desenvolvem cancro de forma natural e não induzida está a ajudar cientistas da área do cancro pediátrico a melhorar o tratamento da doença e a desenvolver novas técnicas terapêuticas revolucionárias. O especialista em cancro pediátrico John Ligon, da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, especializado em hematologia e oncologia pediátrica, é um desses investigadores.
Ligon colabora com Rowan Milner, um veterinário com especialização em oncologia, da mesma instituição de ensino. Milner desenvolve uma linha de investigação focada na resposta imunológica a cancros como o osteossarcoma. Recentemente, um programa liderado pelo investigador apoiou estudos na área da Oncologia Comparada.
Trabalhando em conjunto e com financiamento da Pediatric Cancer Research Foundation (PCRF), Ligon e Milner criaram uma vacina de nanopartículas de RNA para o tratamento do osteossarcoma metastático em humanos. Agora, esta vacina está a ser testada em ensaios clínicos em humanos e os cientistas esperam que a vacina esteja a ser usada em ensaios clínicos pediátricos já nesta primavera de 2024.
O progresso dos investigadores não seria possível sem a ajuda de cobaias caninas, que desenvolvem cancros com propriedades similares às das doenças oncológicas em humanos, e estão a ser usadas no âmbito do programa de ensaios clínicos liderado por Milner.
“A nossa investigação financiada pela PCRF é crucial para nos permitir começar a pensar na combinação de nanopartículas de RNA com outras imunoterapias, como inibidores de checkpoint imunológico”, disse Ligon.
Existem vários motivos pelos quais cães com cancro desenvolvido de forma natural e não induzida são um forte aliado para os investigadores, sublinhou Ligon. Humanos e cães são geneticamente mais semelhantes do que os ratos frequentemente usados em investigações científicas. Humanos e cães também partilham uma série de doenças relacionadas com a idade, incluindo muitos tipos de cancro. E, como os humanos e os cães vivem frequentemente juntos, também estão normalmente expostos aos mesmos fatores ambientais, disseram os investigadores.
“Os cancros em caninos são muito mais semelhantes aos cancros em humanos do que os cancros em ratinhos. Na verdade, alguns cancros caninos, como o osteossarcoma, têm 99% mais semelhança genética com os cancros humanos”, explicou o investigador. “Além disso, o facto de estarmos a tratar cães de estimação (e, portanto, tratando um tumor em desenvolvimento espontâneo, em oposição a um cancro induzido artificialmente), aproximamo-nos ainda mais do modelo de cancro humano”, acrescentou.
Além deste programa de investigação em oncologia da Universidade da Flórida, há outras organizações que investem em estudos sobre a saúde de animais de estimação que podem ajudar a combater o cancro em humanos. Um artigo publicado pelo The Washington Post detalhou os esforços da Morris Animal Foundation e da Universidade da Califórnia, que se concentraram especificamente nos golden retrievers, que têm uma probabilidade 35% maior de desenvolver cancro do que outras raças. Os cientistas da Universidade da Califórnia identificaram uma variante genética que permite que alguns cães tenham uma vida mais longa. A mutação faz parte de uma família de genes ligados a vários tipos de cancro em humanos e caninos.
“Está a ficar muito claro que os caninos são um modelo verdadeiramente único e poderoso [para a investigação oncológica]”, referiu Ligon. “Na verdade, à medida que a Pediatric Cancer Research Foundation e os seus parceiros continuam a olhar para o futuro da investigação do cancro pediátrico, parece não haver limites para o que podemos realizar com a ajuda do melhor amigo do homem”, concluiu.
Fonte: Sciencex