O tratamento a curto prazo com o medicamento ruxolitinib conseguiu prevenir a leucemia linfoblástica aguda de células B em ratos com predisposição genética para a doença.
Realizada pelo St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, e pelo Cancer Research Center de Salamanca, em Espanha, a investigação fornece a primeira evidência em animais de uma possível estratégia para prevenir este tipo de leucemia que, para além de ser o tipo mais comum de cancro infantil, é também a principal causa de mortes por cancro pediátrico.
Os resultados foram publicados na revista Cancer Research.
“Apesar de serem preliminares, estas descobertas deixam-nos muito empolgados. Acreditamos que este é o primeiro grão de esperança para uma intervenção médica capaz de prevenir formas hereditárias de leucemia ou de outros cancros hereditários em geral”, disse Kim Nichols, do St. Jude Children’s Research Hospital.
Cerca de 5% das crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda de células B desenvolvem a doença devido a uma predisposição genética subjacente. Nessas crianças, podem existir células pré-malignas anómalas na medula óssea. Embora muitas dessas crianças não desenvolvam leucemia, algumas desenvolvem.
Atualmente não existe um método para identificar crianças em maior risco, algo que ajudaria a prevenir o desenvolvimento da doença.
A investigação concentrou-se na leucemia linfoblástica aguda de células B que surge quando as crianças carregam uma cópia alterada e uma cópia normal do gene PAX5. O gene PAX5 codifica uma proteína essencial para o desenvolvimento normal das células imunes conhecidas como linfócitos B.
As mutações PAX5 estão entre as menos comuns das mutações germinativas associadas a este tipo de leucemia.
Investigações anteriores de mostraram que a leucemia linfoblástica aguda de células B, tal como acontece em crianças, se desenvolve numa proporção de ratis que carregam uma cópia alterada do gene Pax5, mas apenas quando os animais são expostos a um stress imunitário, como uma infecção.
Essas mesmas investigações também mostraram que os linfócitos B imaturos nesses ratos eram particularmente dependentes da citocina interleucina-7 (IL-7) para a sua sobrevivência.
O bloqueio da sinalização de IL-7 usando o medicamento ruxolinib levou ao aumento da morte celular em laboratório.
Com base neste conhecimento, a atual investigação tratou ratos com mutação em PAX5 com ruxolitinib por um mês após serem transferidos de uma instalação livre de germes para uma em que foram expostos a patógenos comuns – a mudança marcou a primeira exposição das cobaias a infeções.
Supreendentemente, apenas 1 dos 29 ratos que receberam ruxolitinib posteriormente desenvolveu leucemia linfoblástica aguda de células B; por outro lado, 8 dos 34 animais com a mutação que não foram tratados com o fármaco desenvolveram leucemia linfoblástica aguda de células B posteriormente.
O regulador de saúde norte-americano (FDA) aprovou o ruxolitinib para o tratamento de vários distúrbios pediátricos e adultos, considerando que o fármaco inibe moléculas de sinalização celular chamadas citocinas, incluindo IL-7.
Nesta investigação, os cientistas levantam a hipótese de que o ruxolitinib funcionou inibindo a IL-7 e eliminando as células sanguíneas pré-malignas antes que tivessem a possibilidade de adquirir mutações secundárias que desencadearam a sua transformação em células leucémicas completas.
“Ainda precisamos de mais análises para entender melhor o PAX5 na leucemia linfoblástica aguda de células B e como funciona o tratamento com ruxolitinib”, disse Kim Nichols.
“Agora queremos ser capazes de determinar por quanto tempo as crianças com a mutação PAX5 herdada precisariam de tratamento com ruxolitinib para prevenir a leucemia linfoblástica aguda de células B”.
Os investigadores também querem explorar uma abordagem semelhante para prevenir outros cancros hereditários, incluindo outros subtipos de leucemia linfoblástica aguda de células B que apresentem células pré-malignas.
Fonte: Eurekalert