Infeções na gestação podem estar associadas a maior risco de leucemia infantil

Infeções do trato geniturinário materno durante a gravidez podem aumentar o risco de desenvolvimento de leucemia na prole, segundo um estudo realizado na Dinamarca. A investigação mostrou que crianças nascidas de mães que tiveram qualquer tipo de infeção durante a gravidez registaram um risco aumentado de leucemia infantil.

Nenhuma associação foi observada para infeções do trato respiratório, digestivo ou outras. No entanto, infeções genitais maternas e infeções do trato urinário foram associadas à leucemia entre os filhos, de acordo com o estudo publicado na revista JAMA Network Openopens.

Ao comparar crianças expostas a infeções maternas durante a gravidez e crianças não expostas, as diferenças de risco absoluto para leucemia infantil por 100 000 pessoas-ano foram 1,8 casos para qualquer infeção, 3,4 casos com infeções do trato urinário e 7,1 casos por 100 000 pessoas-ano para infeções do genitais,

“Descobrimos que a infeção do trato urinário e genital durante a gravidez foi associada a um maior risco de leucemia infantil, mas o risco absoluto associado permaneceu pequeno devido à raridade da leucemia infantil. Futuros estudos epidemiológicos em diferentes regiões e investigações são necessários para confirmar as nossas descobertas e investigar os mecanismos subjacentes”, escreveram os autores.

A leucemia é o cancro infantil mais comum e a sua etiologia é pouco compreendida. Um melhor conhecimento das possíveis causas da leucemia infantil pode fornecer linhas possíveis para a prevenção da doença no futuro.

“Essas descobertas sugerem que fatores relacionados com o sistema imunológico durante a gravidez podem estar envolvidos no desenvolvimento da leucemia infantil”, destacou Jian-Rong He, um dos autores do estudo.

“A leucemia infantil pode originar-se no útero, uma vez que lesões cromossómicas relacionadas com a leucemia foram observadas no nascimento. Estudos anteriores relataram que os níveis de citocinas no nascimento eram diferentes para crianças saudáveis, em comparação com indivíduos que desenvolveram leucemia na infância”, explicaram.

Atualmente, gestantes em todo o mundo já são rotineiramente tratadas com antibióticos para infeções do trato urinário e vaginose bacteriana no pré-natal.

O estudo reuniu vários registos nacionais dinamarqueses e avaliou dados de mais de 2,2 milhões de crianças nascidas de 1978 a 2022 (quase metade meninas) para 27 milhões de anos de acompanhamento.

As crianças foram acompanhadas por 12 anos em média, durante os quais 4 362 crianças foram diagnosticadas com cancro antes dos 15 anos de idade. Destas, 1 307 tinham leucemia: 1 050 com leucemia mieloide aguda (LMA), 192 com leucemia linfoblástica aguda (LLA) e 92 com outro tipo de leucemia.

A infeção do trato geniturinário foi especificamente associada a riscos aumentados de LMA e LLA. Houve também um risco três vezes maior de leucemia entre crianças que tiveram mães com infeções sexualmente transmissíveis durante a gravidez. Não foram observadas associações entre infeção materna durante a gravidez e outros tipos de cancro infantil, como linfoma ou tumores cerebrais.

Uma análise aos irmãos também foi realizada para comparar os fatores de confusão com a análise principal. No geral, não houve evidência significativa para indicar que os traços partilhados entre as famílias impactaram nas taxas de leucemia infantil.

Ao todo, 81 727 mães (3,7%) tiveram algum tipo de infeção durante a gravidez: 1,7% apresentou infeção do trato urinário, 0,7% apresentou infeção do trato genital, 0,5% apresentou infeção do aparelho digestivo e 0,3% apresentou infeção do trato respiratório.

Houve algumas diferenças entre as mães que tiveram infeção e as que não tiveram. Aqueles que tiveram qualquer infeção eram mais propensas a registar a sua primeira gravidez, dar à luz a bebés prematuros e menores, ter diabetes ou fumar durante a gravidez, ter um IMC mais alto durante a gravidez e eram um pouco mais jovens e tinham menos nível escolar do que as suas homólogas.

As limitações do estudo incluem dados de infeção materna baseados em diagnósticos hospitalares, o que significa que casos fora da rede hospitalar não foram incluídos.

O tratamento para condições mais graves relacionadas com a gravidez que levaram ao registo de uma infeção também pode ter desempenhado um papel nas associações observadas.

Fonte: MedPageToday

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