Impacto psicológico do cancro pediátrico: ansiedade e medo persistente em sobreviventes

De acordo com um novo estudo, publicado recentemente na JAMA Network Open, um terço dos sobreviventes de cancro pediátrico, quando chega à idade adulta, sente medo de reincidir, o que tem um grande impacto no seu dia-a-dia.

“Não temos visto a utilização de medidas fortes [contra o medo da recorrência do cancro] que tenham sido validadas ou que sejam fiáveis quando se trata de estudos com sobreviventes de cancro pediátrico, pelo que tem sido difícil estabelecer estimativas de prevalência”, referiu Alex Pizzo, autor principal do estudo e estudante de doutoramento em Psicologia Clínica no Behavioural Health Innovations Lab da Concordia University (Montreal, Canadá).

“É claro que um certo nível de medo ou ansiedade em torno do medo da recorrência do cancro é inteiramente normal e justificável”, acrescentou Nicole Alberts, Professora Associada do Departamento de Psicologia e da cadeira de Intervenções de Saúde Comportamental da mesma Universidade canadiana. No entanto, não dispúnhamos de muitas provas de que a doença atingisse um nível em que começasse realmente a causar angústia aos sobreviventes ou a afetar a sua escola, o seu trabalho ou as suas relações com as pessoas”.

 

Métodos e resultados do estudo

Neste estudo foram analisados dados de 229 sobreviventes de cancro pediátrico, do Childhood Cancer Survivor Study, tratados entre 1970 e 1999 na América do Norte, a quem foi pedido que classificassem os seus sintomas de medo de recorrência de cancro, ansiedade e sintomas depressivos, autoperceção da saúde, dor crónica, entre outras, a fim de se perceberem níveis mínimos, elevados ou clinicamente significativos do medo de reincidir.

Os investigadores descobriram que os sobreviventes de cancro de longo prazo assumem um medo clinicamente significativo (16,6%) e elevado (15,7%) da recorrência do cancro. Dentro do elevado medo de reincidir, estavam os sobreviventes que se encontravam desempregados ou que tinham formação superior, assim como pessoas que foram submetidas a tratamentos de radiação pélvica, amputação de membros ou cirurgia poupadora dos membros.

Os investigadores esperam que os resultados deste estudo inspirem a criação de novas iniciativas que melhorem o tratamento de adultos sobreviventes de cancros pediátricos, nomeadamente com a realização de rastreios de possíveis sintomas durante consultas médicas. Sugerem também a intervenção com terapia cognitivo-comportamental, combinada com mindfulness para ajuda a aliviar o medo da recorrência de cancro.

“Em termos de sobrevivência a longo prazo, os tipos de cuidados psicológicos que os sobreviventes recebem pode variar. Um maior rastreio ajudaria, embora ter os recursos disponíveis para os apoiar seja sempre um desafio”, referiu Alberts. “Não sabemos realmente que tipo de preocupações têm. Será que se preocupam com a recorrência do cancro original, com os tumores malignos subsequentes ou com os efeitos tardios? Conhecer essa informação seria muito útil para planear o seu tratamento”, concluiu Pizzo.

Fonte: The ASCO Post

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