O hepatoblastoma é um tipo de cancro do fígado raro e o mais comum em crianças com menos de três anos. Todos os anos, registam-se 1,8 casos por milhão de crianças, mas a incidência está a aumentar. As opções de tratamento disponíveis são limitadas, e a quimioterapia padrão causa efeitos secundários graves e duradouros, como a perda de audição ou problemas cardíacos.
Observado em células cancerígenas retiradas de doentes e implantadas em ratinhos, investigadores perceberam que um novo medicamento, o WNTinib, pode atrasar o crescimento deste tumor e melhorar a taxa de sobrevivência neste cancro. Preparam-se agora para identificar as crianças que podem beneficiar do tratamento, como referido por Ugnė Balaševičiūtė, investigadora no Grupo de Investigação Translacional em Oncologia Hepática, durante uma apresentação no 36º Simpósio EORTC-NCI-AACR sobre Alvos Moleculares e Terapêutica do Cancro, em Barcelona.
O WNTinib, descoberto por investigadores da Icahn School of Medicine at Mount Sinai (EUA) em colaboração com Josep M. Llovet e Ernesto Guccione no Institut D’Investigacions Biomediques August Pi i Sunyer (Barcelona, Espanha), é uma pequena molécula cujo alvo é a mutação genética chave no hepatoblastoma – a CTNNB1 – poupando as células normais e saudáveis.
“As mutações no gene CTNNB1 são a alteração mais prevalente nas células do hepatoblastoma, ocorrendo em cerca de 90% dos casos. Isto sugere que seria um alvo potencial. No entanto, o tratamento das mutações CTNNB1 é complicado e ainda não foram aprovadas terapias”, explicou Balaševičiūtė.
Através da criação de três modelos, foram implantados em ratinhos tecido tumoral retirado de doentes, ou duas linhas de células cancerígenas chamadas HepG2 e TT001, estabelecidas a partir de tumores de doentes e cultivadas em laboratório. Todos os tumores e células cancerígenas tinham mutações CTNNB1. Os ratinhos foram tratados com WNTinib e os efeitos foram comparados em relação aos ratinhos e células não tratados.
“Observámos um crescimento tumoral significativamente reduzido e uma sobrevivência significativamente prolongada até ao 21º dia em ratinhos implantados com tecido tumoral de doentes. Notavelmente, a sobrevivência mediana para o grupo de ratos tratados com WNTinib foi duas vezes mais longa, com 42 dias, em comparação com o grupo de controlo, que teve uma sobrevivência mediana de 21 dias”, explicou Balaševičiūtė.
No segundo e terceiro modelos, com ratinhos implantados com as linhas celulares HepG2 e TT001 respetivamente, verificou-se um atraso claro do crescimento do tumor, sendo no primeiro a sobrevivência média de 16 dias, em comparação com os 9 dias do grupo de controlo, e no segundo, mais de 30 dias, com três ratinhos ainda vivos após 106, 118 e 127 dias, em comparação com o grupo de controlo onde nenhum sobreviveu mais de 20 dias.
“No geral, nos três modelos pré-clínicos, observámos uma inibição eficaz do crescimento do tumor e uma melhoria significativa da sobrevivência global no hepatoblastoma com a mutação CTNNB1. Estes resultados sugerem uma nova e promissora estratégia de tratamento que poderá aumentar a sobrevivência em crianças com hepatoblastoma portadoras de mutações CTNNB1”, disse Balaševičiūtė, “o objetivo a longo prazo é melhorar a eficácia e reduzir a toxicidade geral através da utilização de fármacos como o WNTinib para o tratamento de tumores de hepatoblastoma com mutações CTNNB1”.
Fonte: Medical Xpress