Nos últimos 30 anos, a taxa de sucesso dos tratamentos do cancro pediátrico melhorou drasticamente. Atualmente, é superior a 80% – e até superior para alguns cancros. Embora a redução da mortalidade seja animadora, cerca de duas em cada três das crianças que sobrevivem ao cancro vão sofrer, mais tarde, efeitos adversos dos tratamentos agressivos que receberam em tenra idade.
Os tratamentos contra o cancro podem causar danos no organismo em crescimento, incluindo complicações neuro cognitivas, endócrinas e cardiometabólicas, como a dislipidemia, a hipertensão e a pré-diabetes.
Para atenuar estes efeitos, há vários anos, uma equipa de investigação multidisciplinar do Hospital Pediátrico Sainte-Justine, em Montreal – onde se inclui Valérie Marcil, professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Montreal – lançou uma iniciativa denominada Projet VIE, cujo sucesso vai fazer com que seja alargado a todos os hospitais universitários do Quebec que tratam crianças com cancro: CHU de Québec-Université Laval, CHU de Sherbrooke e o Hospital Pediátrico de Montreal.
Intervir o mais rapidamente possível
O Projet VIE promove hábitos de vida saudáveis (nutrição, atividade física e saúde mental) para atenuar os efeitos do cancro durante e após o tratamento.
“O objetivo é promover o bem-estar das crianças e dos adolescentes com cancro”, afirmou Marcil. “Intervimos o mais cedo possível após o diagnóstico, porque os tratamentos provocam rapidamente alterações”, como complicações digestivas e a capacidade de saborear corretamente os alimentos.
O Projet VIE dispõe de nutricionistas que asseguram um acompanhamento personalizado e organizam workshops de culinária para incentivar as crianças e as suas famílias a adotarem uma dieta equilibrada, ajudá-las a descobrir novos alimentos e a tornar a alimentação uma experiência novamente agradável. Os pacientes e as suas famílias recebem ainda aconselhamento psicológico e participam em atividades físicas, uma vez que o exercício tem efeitos protetores em muitos dos sistemas do corpo humano.
“As crianças recuperam a confiança”
“Muitas crianças com cancro sentem perda de controlo sobre o seu corpo e desenvolvem uma autoimagem negativa. Com esta abordagem mais abrangente, dizem-nos que recuperam a confiança para ser fisicamente ativas e que redescobrem o prazer de comer”, refere Marcil, que acredita que a promoção de um estilo de vida saudável também vai trazer benefícios a longo prazo, nomeadamente para a saúde cardiometabólica. Hipótese que vai estudar nos próximo anos.
Fonte: Udem Nouvelles