Rosa lembra-se perfeitamente do dia em que o seu mundo parou.
“Senti-me como se o chão debaixo de mim estivesse a cair. Parecia que me estava a afundar, a ser empurrada por um buraco escuro…”
Tudo isto aconteceu depois de um longo dia nas urgências com o seu filho David, na altura com 8 meses. Há já alguns dias que o menino estava com falta de apetite, mas no dia anterior ele começou a ficar pálido e a sua barriga a inchar. Rosa não perdeu tempo, e seguiu para o hospital.
E foi ali, no Hospital de New Jersey, nos Estados Unidos, que Rosa soube que o seu filho tinha leucemia.
“Não houve tempo a perder. Quisemos saber quais as melhores opções de tratamento e onde as poderíamos obter. O meu filho estava muito doente e não ia deixar que nada de mal lhe acontecesse. O médico recomendou-nos o Nemours Hospital, que ficava em Delaware”.
Poucas horas depois, Rosa e David estavam numa ambulância a caminho do novo hospital que, durante quase 2 anos, foi a sua segunda casa.
Durante esse período, Rosa viu coisas “que não desejo ao meu pior inimigo. Ver o meu filho fraco, com dores, entubado. Passar por aquilo tudo desamparada, especialmente durante o período em que fomos assolados pela COVID-19, foi horrível. Os protocolos eram rigorosíssimos, e ainda bem, mas foi muito difícil.”
Ainda assim, Rosa não esquece todo o apoio que ela e David receberam da equipa médica.
“Foram incansáveis. Fizeram tudo por nós, e a prova é que o meu filho está vivo. Tenho que agradecer a todos, médicos, enfermeiros, auxiliares… não há palavras”.
Durante um ano, esta mãe viveu praticamente dentro da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica – quando uma criança é diagnosticada com cancro com menos de 1 ano de idade, o protocolo exige que ela permaneça no hospital para cada ciclo quimioterapia. Uma vez que as crianças são muito vulneráveis, algo tão pequeno quanto uma febre pode tornar-se fatal.
Depois do início da pandemia, apenas um cuidador foi autorizado a ficar com o David. O marido de Rosa e a filha de sete anos não foram autorizados a visitá-los durante 6 meses – apesar de difícil, Rosa acredita que esta rigidez protocolar ajudou a salvar a vida de David.
Finalmente, em agosto de 2020, mãe e filho foram autorizados a voltar para casa – contudo, 2 meses depois, David teve uma recidiva.
“Voltámos para o hospital e ficámos lá mais 2 meses. Passado esse período, fomos informados de que o tratamento não estava a funcionar e que o David iria iniciar um tratamento alternativo que envolvia radioterapia. Parecia que nunca tínhamos um momento de descanso. Mas nem estes revezes me fizeram questionar a competência da equipa médica.”
Rosa lembra-se de ter perguntado se a radiação era a melhor escolha para uma criança com menos de 2 anos de idade – a resposta confiante dos médicos acalmou-a.
“Eles sempre foram diretos e genuínos comigo. Eu sentia que, para eles, o David importava. Uma manhã, um dos médicos passou pelo nosso quarto, não para falar comigo, mas só para ver o David. Não havia nenhuma razão especial, ele só queria ter a certeza de que ele estava bem”.
Atualmente, David já está em casa. Aos poucos, Rosa e a família começam a viver uma “vida normal. O David recebeu um transplante, e está muito melhor. O cabelo dele já começou a crescer novamente, ele já está a ganhar peso. Estamos muito confiantes”.
Ainda assim, há marcas que ficam para a vida. E não só para David, que está a ser acompanhado por especialistas, de forma a ajudar alguns déficits sociais originados pelos largos meses de isolamento no hospital.
“A minha filha está a lutar contra a ansiedade. O afastamento entre nós, as idas ao hospital, todo o processo, mexeu muito com ela. Está a ser acompanhada por psiquiatras, mas estou confiante que também vamos ultrapassar isto”.
“Tenho a certeza de que outras famílias irão concordar comigo: há uma vida antes do cancro, uma vida durante o cancro e outra vida após o cancro. Felizmente, as coisas vão ficando mais fáceis”.
Fonte: Delaware Today