Uma investigação realizada por cientistas australianos pode abrir o caminho para um novo tratamento contra um dos cancros infantis mais agressivos: o glioma pontino intrínseco difuso, também denominado de DIPG.
Na Austrália, esta doença afeta cerca de 20 crianças por ano.
“O DIPG é uma doença devastadora, com um tempo médio de sobrevivência de apenas 9 meses após o diagnóstico”, explicam os cientistas.
A investigação, realizada pelo Children’s Cancer Institute, pode vir a oferecer uma nova abordagem terapêutica para o tratamento de DIPG usando um novo fármaco anticancerígeno.
Este fármaco, designado CBL0137, é um composto anticancerígeno que foi desenvolvido a partir de medicamento utilizado no tratamento da malária, a quinacrina.
Os cientistas descobriram que o CBL0137 reverte diretamente os efeitos dos principais drivers genéticos no DIPG e tem um efeito profundo contra os tumores deste tipo de cancro.
Mais, durante a investigação, observou-se que o CBL0137 é ainda mais eficaz quando combinado com um segundo medicamento, o panobinostat, um novo tipo de medicamento conhecido como inibidor da histona desacetilase (HDAC).
Quando usados em combinação, os dois medicamentos funcionam sinergicamente, ou seja, cada um aumenta os efeitos dos outros contra o DIPG.
Sobre esta investigação, os cientistas do Children’s Cancer Institute referem a “necessidade urgente de uma maneira nova e mais eficaz de tratar o DIPG”.
“Ao longo dos anos, temos visto surgirem muitos tipos diferentes de tratamentos para esta doença, mas, até agora, nenhum deles se mostrou eficaz em ensaios clínicos”, disse David Ziegler, o principal autor da investigação.
Segundo o cientista, uma das grandes dificuldades encontradas está relacionada com o facto de que “o driver genético no DIPG é um gene mestre que controla milhares de outros genes. Até agora, não sabíamos como desligá-lo. Mas os dados mostraram-nos que o CBL0137 age para reverter os efeitos desse gene mestre e, em seguida, desliga o crescimento das células tumorais”.
Esta investigação baseou-se em estudos anteriores, realizados pela mesma instituição, que haviam descoberto que o CLB037 era eficaz contra o neuroblastoma.
Ao utilizarem a mesma abordagem, os cientistas conseguiram confirmar que o CBL0137 interfere no crescimento de tumores DIPG ao inibir uma molécula importante conhecida como FACT (necessária para a transcrição, replicação e reparo do ADN); o FACT liga-se ao driver genético chave no DIPG – uma mutação chamada K27M.
Ao tratar as células DIPG com CBL0137, os cientistas foram capazes de direcionar esse gene e impedir o crescimento das células tumorais.
Em seguida, o composto foi testado em xeno enxertos derivados de pacientes e colocados em ratos, tendo mostrado que o CBL0137 penetrou a barreira hematoencefálica e aumentou o tempo de sobrevivência.
Quando adicionaram panobinostat ao tratamento, os cientistas descobriram que a combinação CBL0137-panobinostat foi ainda mais eficaz em eliminar células DIPG e melhorou ainda mais o tempo de sobrevivência em ratos com a doença.
“O K27M é o calcanhar de Aquiles das células tumorais de DIPG. Termos descoberto que o CBL0137 agiu indiretamente contra este driver genético é algo muito empolgante e que nos dá esperança para a criação de novas abordagens de tratamento”.
O próximo passo será dar início a um ensaio clínico internacional que terá lugar, não só na Austrália, mas também nos Estados Unidos da América.
A investigação foi publicada na revista Cell Reports.
Fonte: Eurekalert