“Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para a poder salvar”
Estas são as palavras de uma mãe em luto. Uma mãe que, juntamente com o seu marido, lutou ao lado da filha de ambos.
Lori Richey e o seu marido, Shon, dedicaram estes dois últimos anos a dar o melhor de si à sua filha Avery, enquanto esta lutava contra um cancro.
Mas, a 17 de maio de 2021, “a Avery deu o seu último suspiro”.
A jornada de Avery começou em 2019, quando a menina tinha 5 anos de idade. Na altura, Lori reparou que algo de estranho se passava, e resolveu levar a menina ao pediatra.
“A Avery começou a queixar-se de dores de cabeça frequentes e de falta de equilíbrio”, recorda Lori.
Após várias visitas ao pediatra, a menina foi sujeita a uma ressonância magnética.
Um dia antes de Avery começar a frequentar o jardim de infância, Lori e Shon receberam uma notícia mudaria o rumo do resto das suas vidas.
“Quando o médico nos disse o que se passava com a Avery, as primeiras palavras que disse foram ‘é impossível, amanhã é o primeiro dia dela no jardim de infância’. Foi um choque horrível. Naquele momento, soube que a minha vida nunca mais seria a mesma”.
A notícia de que Avery tinha um tumor no cérebro ditou o início de uma batalha que durou quase dois anos.
Em vez de ir para o jardim-escola, a menina foi hospitalizada durante 12 dias, onde foi submetida a uma cirurgia de remoção de tumor.
“Meduloblastoma. Eu nem sabia que isso existia. Quando a levámos pela primeira vez ao médico eu achei que me iam dizer que a minha filha tinha alguma espécie de traumatismo. Nunca pensámos numa coisa tão grave”, afirma o pai da menina.
Após a cirurgia, Avery foi submetida a vários ciclos de quimioterapia, entre setembro de 2019 e janeiro de 2020. Os tratamentos eram muito agressivos e afetaram arduamente o corpo da menina.
“Parecia que havia sempre alguma coisa a correr mal. Após três rondas quimioterapia, quando era suposto regressarmos a casa, a Avery começou a ter febres altíssimas. Era um sinal de que o seu sistema imunitário estava muito debilitado”.
Entre setembro e janeiro, Avery passou 150 noites no hospital. Em janeiro de 2020, chegou uma nova esperança: um transplante de medula óssea.
“Ela foi submetida a um transplante e parecia que tudo ia correr bem. Os exames estavam ótimos. Sabíamos que havia a possibilidade de recidiva, mas acreditámos que tudo estava bem”.
Avery recebeu alta do hospital em fevereiro, e voltou lá em maio, para exames de rotina.
“Estava tudo bem. Mas, em agosto, quando voltámos, as coisas mudaram. O cancro tinha voltado, e ainda mais agressivo do que antes. A minha filha estava com vários tumores no cérebro e na coluna.”
Naquela altura, Lori e Shon perceberam que “tínhamos de abrir o jogo e contar a verdade às nossas outras duas filhas”, as gémeas Ella e Lexi, de 10 anos.
“Tentámos não perder a esperança, mas os médicos avisaram-nos que seria preciso um milagre para a Avery sobreviver. Quisemos ser sinceros com as nossas filhas, porque a nossa família sempre se pautou pela verdade. Mas falar com elas foi das piores coisas que já fiz na vida”.
Após a conversa, a luta continuou.
Entre agosto de 2020 e abril de 2021, Avery recebeu os melhores tratamentos disponíveis no Hospital Children’s of Alabama, um “ponto de abrigo”, como lhe chama Lori.
Inicialmente, Avery teve uma resposta positiva aos tratamentos, “mas depois”, recorda Shon, “deixou de conseguir aguentar tanto sofrimento”.
“O corpo dela estava muito cansado, e começou a desistir… Há um limite para aquilo que conseguimos aguentar, e o corpo da Avery começou a dar sinais de que estava perto do limite”.
A audição de Avery já estava bastante afetada ao ponto de menina precisar de aparelhos auditivos; o mesmo se passou com a sua visão.
A família tomou a difícil decisão de interromper os tratamentos no dia 28 de abril de 2021. A partir daquele momento, a menina passou a receber cuidados paliativos, sempre com o seu pai e com a sua mãe do seu lado.
A 17 de maio, a pequena Avery faleceu.
“A luta terminou”, diz, emocionada, Lori.
“Por mais que nos doa, a verdade é que a nossa filha já não está a sofrer. No final, já só pedíamos isso. É insuportável ver os nossos filhos a sofrer, e a Avery sofreu muito, muito mesmo”, recorda Shon.
“O sofrimento da Avery acabou, mas o nosso não. Queríamos muito que a nossa filha estivesse curada”, diz Lori, em lágrimas.
“Tanto eu como o meu marido pedimos muitas vezes para trocar de lugar com a nossa filha. Não sabemos se existe Deus, mas todos os dias lhe pedíamos acabasse com todo aquele sofrimento, que curasse a nossa filha. Infelizmente, isso não aconteceu. Mas, pelo menos, ela agora está em paz”.
Durante todo este doloroso processo, Lori e Shon aperceberam-se do tanto que há a fazer pela oncologia pediátrica.
“Até sermos afetados por esta doença, nunca tínhamos conhecido nenhuma família que tivesse a passar por aquilo que nós passámos. E depois, conhecemos tantas, tantas famílias a quem o cancro infantil roubou tudo. Não sabíamos nada de estatísticas, de taxas de sobrevivência, da falta de financiamento para apoiar as nossas crianças”.
Por isso, desde a morte de Avery, a família Richey dedica-se à angariação de fundos para a investigação em oncologia pediátrica.
“Os fármacos dados à Avery eram todos destinados a adultos. Nenhum deles tinha sido desenvolvido especificamente para crianças e nenhum deles tinha sido inventado nos últimos 20 ou 30 anos. As crianças não são apenas adultos em ponto pequeno, mas é assim que são tratadas no mundo do cancro”, diz Lori, que agora está empenhada em lutar por todas as outras famílias.
“Sabemos que não vamos conseguir mudar o mundo, mas queremos dar o nosso pequeno contributo. Talvez um dia, num futuro não tão distante, o que estamos a fazer possa vir a mudar a vida de uma outra família afetada pelo cancro infantil”.
Fonte: Trussville Tribune