De acordo com uma nova investigação, um medicamento já usado para tratar cancro da mama e do ovário, denominado de inibidor de PARP, pode ser útil no tratamento do neuroblastoma de alto risco, um tumor comummente diagnosticado em crianças e que possui uma baixa taxa de sobrevivência.
O neuroblastoma é um tipo de cancro que surge de células nervosas no peito ou no abdómen; em alguns casos, existe um gene anormal chamado MYCN que dificulta o tratamento.
Atualmente, as crianças recebem quimioterapia intensa, radioterapia e cirurgia, mas, apesar disso, apenas metade sobreviverão.
Cientistas da Universidade de Sheffield colaboraram com o Institute of Cancer Research, ambos localizados no Reino Unido, de forma a conduzirem pesquisas para encontrar uma maneira nova, mais eficaz e menos tóxica de atingir tumores de neuroblastoma de alto risco com níveis aumentados de MYCN.
O MYCN afeta o crescimento das células tumorais e torna-as mais dependentes de uma proteína, chamada PARP, para a sobrevivência; isso significa que as células tumorais são especificamente eliminadas por um medicamento que interrompe o funcionamento do PARP.
Uma vantagem desta terapia é que as células normais não tumorais não são prejudicadas; assim, os efeitos secundários prejudiciais geralmente observados na quimioterapia são reduzidos.
O estudo, financiado pela organização Children with Cancer UK, descobriu que o uso de inibidores da PARP, tanto isoladamente quanto combinada com quimioterapia, era eficaz na morte de células de neuroblastoma.
Este foi um dos primeiros estudos a mostrar isso em células de neuroblastoma e em modelos de tumor.
“Estávamos interessados em saber como é que este processo evoluía no neuroblastoma e se podíamos explorar essas alterações para eliminar especificamente células cancerígenas sem afetar as células normais ao redor do tumor. Dessa forma, esperamos desenvolver terapias mais gentis e menos tóxicas para as crianças.”
Os investigadores explicam que o estudo examinou a maneira como o ADN é danificado e reparado – uma das caraterísticas comuns em todos os cancros é que existem mudanças nesse processo.
“Os inibidores da PARP estão a ser usados, com sucesso, em mulheres com cancro da mama e do ovário; também por esse motivo, estamos otimistas de que o nosso estudo possa vir a ser aplicado rapidamente em crianças com neuroblastoma”.
O conceito de uso de inibidores da PARP para impedir que as células cancerígenas recuperem foi desenvolvido por cientistas da Universidade de Sheffield. Helen Bryant, a investigadora principal desta recente pesquisa, fez parte desta equipa, liderada por Thomas Helleday, que conseguiu traduzir os resultados numa nova abordagem para eliminar células tumorais e tratar o cancro.
Esta abordagem, apelidada de abordagem letal sintética, foi descrita como uma das mais promissoras e empolgantes terapias para o futuro tratamento do cancro, tendo levado ao desenvolvimento de um novo medicamento, intitulado Lynparza, que já teve resultados positivos, em todo o mundo, no tratamento de pacientes com os genes BRCA1 e BRCA2.
“Crianças com neuroblastoma e MYCN atualmente recebem o tratamento mais intenso usado para qualquer tipo de cancro; este tratamento intenso causa inúmeros efeitos secundários e, na maioria dos casos, obriga ao internamento prolongado. Mesmo assim, apenas cerca de metade das crianças com neuroblastoma de alto risco sobreviverão”.
As palavras são de David King, cientista do Children with Cancer UK, que lembrou que os inibidores de PARP têm muito poucos efeitos secundários em adultos.
Segundo os cientistas, o uso destes inibidores em casos de neuroblastoma pode significar que mais crianças sobrevivem à doença sem que sejam submetidas a tratamentos tão tóxicos. Em laboratório, o estudo foi capaz de mostrar que os inibidores de PARP matam células de neuroblastoma com MYCN.
O próximo passo é verificar se estes inibidores são benéficos em crianças com neuroblastoma, através de um ensaio clínico.
“É crucial encontrarmos tratamentos mais eficazes e personalizados para crianças com neuroblastoma. Estas descobertas, que foram o resultado de uma enorme parceria entre a Universidade de Sheffield, o Institute of Cancer Research e a Children with Cancer UK, representam um passo importante para o desenvolvimento de tratamentos novos e mais gentis que reduzem o ónus da toxicidade”, disse Mark Brider, CEO da Children with Cancer UK.
Fonte: Mirage News