Uma parceria da empresa portuguesa Biotecnol e da Cancer Research, no Reino Unido, irá testar um novo medicamento em 45 doentes de hospitais londrinos com cancro avançado.
A Biotecnol é uma empresa portuguesa que desenvolve medicamentos, usando o próprio sistema imunitário para atacar as células cancerígenas; estes fármacos são assim apelidados de medicamentos biológicos” ou “biofármacos”.
Este fármaco faz parte das imunoterapias oncológicas e utiliza os linfócitos T para destruir as células cancerígenas; neste caso, a molécula Tb535H foi criada para se dirigir a um antigénio que se encontra nas células de vários tipos de cancros sólidos.
A Tb535H é composta por três braços, criados em laboratório; dois desses braços têm um anticorpo (repetido) dirigido para o antigénio 5T4, uma proteína produzida pelas células cancerígenas e que está associada à sua proliferação e consequente processo de metastização. Já o terceiro braço contém outro anticorpo dirigido aos linfócitos T, mais concretamente a uma molécula chamada CD3 que está à sua superfície, para recrutar estas células imunitárias para o combate.
De acordo com o presidente da empresa portuguesa, Pedro de Noronha Pissarra, este medicamento é “como um míssil direcionado para o ‘alvo 5T4”; ao ligar-se ao antigénio 5T4, o anticorpo ”não só seleciona as células cancerígenas como bloqueia o seu processo de propagação”, tendo assim um “duplo efeito de reconhecimento e de bloqueio”.
O terceiro braço da Tb535H serve para eliminar as células cancerígenas, através de técnicas de engenharia genética desenvolvidas por investigadores da Biotecnol, usando as “próprias defesas imunitárias do doente, para elas atacarem e matarem o tumor”.
Os linfócitos-T são as células do sistema imunitário envolvidas na proteção do corpo contra doenças infeciosas e invasores externos. Existe um lugar de ligação (como um magneto) nos linfócitos T chamado CD3, que, e segundo os investigadores, quando é ativado, torna-os verdadeiras células assassinas; assim, os investigadores “montaram um anticorpo atrator do CD3 que atrai os linfócitos T e liga-os a esse atrator, provocando assim a sua ativação”.
Resumidamente, o empresário e investigador explica que “o que o Tb535 faz é ligar-se com dois braços ao tumor que tem 5T4 e, com um outro braço, atrai e ativa os linfócitos T que circulam pelo sangue e direciona-os para o tumor. Ao entrar em contacto com o tumor, os linfócitos T libertam substâncias bioquímicas letais para o destruir. No fundo, o que o produto faz é ‘educar’ os linfócitos T para atacarem o tumor, que emite 5T4”.
Tendo em conta esta “alternativa muito potente e mais segura aos tradicionais fármacos químicos”, a Biotecnol chegou a acordo com a Cancer Research UK que irá, em troca de uma percentagem da Biotecnol, investir no medicamento, que terá custado já cerca de cinco milhões de euros.
E é nos termos deste acordo que irá surgir um ensaio clínico em 45 doentes, em hospitais como o King’s College Hospital, o Guy’s Hospital e o Royal Marsden Hospital.
O ensaio irá incluir doentes cujas biópsias sejam positivas para o antigénio 5T4, em cancros dos rins, pescoço e cabeça, pulmões, mama e cólon, entre outros; nos dois anos seguintes após o tratamento, será avaliada a sobrevivência dos doentes.
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