Um novo exame de sangue para crianças com tumores cerebrais pode vir a oferecer uma abordagem mais segura do que as biópsias cirúrgicas, permitindo aos médicos medir a eficácia do tratamento mesmo antes das alterações serem identificadas nos exames.
O teste está a ser realizado pela Benioff Children’s Hospitals e pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
Ao contrário de uma biópsia cerebral padrão, que envolve perfurar um pequeno orifício no crânio para extrair uma amostra do tumor, a chamada biópsia líquida é minimamente invasiva e envolve a análise de moléculas no sangue ou no líquido cefalorraquidiano, que banha o cérebro e a coluna vertebral.
O estudo, publicado na Clinical Cancer Research, contou com a participação de 48 crianças com um tumor cerebral de alto grau. As crianças foram submetidas a biópsias líquidas usando plasma de sangue e líquido cefalorraquidiano de punções da coluna vertebral.
Os investigadores procuraram ADN de tumores nessas amostras, usando uma técnica altamente sensível chamada reação em cadeia da polimerase em gotículas digitais que conta com precisão as moléculas individuais de ADN.
Assim, os especialistas conseguiram identificar uma mutação chamada H3K27M em 42 dos 48 pacientes, um nível comparável ao encontrado quando usada a biópsia padrão.
Entre as 12 crianças submetidas à biópsia líquida, antes e depois da radiação, os investigadores descobriram que o ADN do tumor circulante havia diminuído significativamente, indicando que o tumor havia diminuído.
Esta redução foi posteriormente confirmada por uma ressonância magnética em 10 dos 12 pacientes.
“A maioria dos tumores cerebrais, nomeadamente dos gliomas, pode ser avaliada através de uma biópsia cirúrgica, mas isso não é feito com frequência, devido ao risco. Consequentemente, os médicos confiam em exames clínicos e em ressonâncias magnéticas para avaliar a resposta à terapia, embora ambos os métodos sejam limitados quer em sensibilidade quer em especificidade”, explicaram os cientistas.
O crescimento sutil do tumor pode não ser evidente na ressonância magnética, levando ao subdiagnóstico numa fase inicial.
Quando a recessão do tumor é detetada na ressonância magnética, é um indicador claro de que o tratamento da criança está a funcionar, mas a radiação e certos outros tratamentos podem causar inflamação que se disfarça de crescimento, dificultando a avaliação do impacto do tratamento.
“Trazer tecnologias emergentes para estes tratamentos irá permitir alcançar a medicina de precisão para o tratamento de populações de pacientes mais vulneráveis”, disseram.
“Estes resultados são encorajadores. As biópsias líquidas têm o potencial de nos informar se um paciente é candidato a uma terapia direcionada e se essa terapia está a funcionar, em tempo real”.