Um estudo realizado por investigadores norte-americanos que avaliou dados públicos, analisou o custo de criar novos tratamentos oncológicos e sugere que estes não são tão elevados como alegam as farmacêuticas.
A investigação surgiu após a aprovação da primeira terapia genética contra o cancro nos Estados Unidos, a terapia CAR-T desenvolvida pela Novartis, que reavivou o debate sobre o preço a que chegam alguns medicamentos.
Segundo a indústria, o preço de alguns fármacos é justificado pelo investimento milionário que é feito no processo de desenvolvimento; de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Tufts, o processo de pesquisa e desenvolvimento de um novo fármaco leva mais de uma década a ser desenvolvido e custa o equivalente a 2,6 mil milhões de dólares (cerca de 800 milhões de euros).
Contudo, o estudo realizado pelos investigadores norte-americanos indica que o tempo necessário para a pesquisa é de sete anos e que o gasto médio é de 648 milhões de dólares (cerca de 542 milhões de euros).
A investigação baseou-se em dados públicos relativos a dez empresas farmacêuticas que colocaram um fármaco oncológico no mercado norte-americano entre 2006 e 2016; os especialistas analisaram os relatórios financeiros das empresas para estimar quanto gastaram em pesquisa e desenvolvimento até colocarem o fármaco no mercado.
O trabalho, publicado na Jama Internal Medicine, afirma que o custo de desenvolver um composto oscilou entre os 159 milhões de dólares (cerca de 133 milhões de euros) e os 1,95 mil milhões de dólares (cerca de 1,6 mil milhões de euros); nove dos dez fármacos produziram mais benefícios que gastos e quatro deles geraram dez vezes mais dinheiro do que aquele que se gastou no seu desenvolvimento.
De acordo com os especialistas, esta foi uma das primeiras “estimativas transparentes sobre o gasto em pesquisa e desenvolvimento em medicamentos oncológicos, e que tem implicações no atual debate sobre o preço dos fármacos”.
Ainda assim, os investigadores admitem algumas lacunas na investigação, como o facto de os dez medicamentos analisados representarem apenas 15% de todos os fármacos contra o cancro aprovados pelo regulador de saúde norte-americano (FDA).
Outra das lacunas prende-se com a falta de “transparência sobre o investimento em pesquisa e desenvolvimento das empresas” pois, sem ela, não se pode calcular o custo exato de desenvolver novos remédios, afirmam os investigadores.
Esta análise é então um passo na direção adequada para explicar se é justo que os novos fármacos contra o cancro “alcancem preços tão incrivelmente altos que muitos pacientes não os podem pagar”, acrescentam os especialistas; a situação é especialmente grave nos Estados Unidos, já que naquele país os preços dos fármacos são fixados pelas empresas e não são negociados com os governos.
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