Cientistas da Faculdade de Medicina da University of British Columbia (UBC) e do BC Children’s Hospital Research Institute (BCCHR) fizeram uma descoberta importante sobre como a leucemia linfoblástica aguda (LLA) infantil evolui e responde às terapias direcionadas.
Publicado na Nature Communications, o estudo descobriu que alguns aspetos tratáveis do cancro infantil que estão presentes no momento do diagnóstico ainda permanecem se a doença regressar. Esta descoberta sugere que os médicos podem começar a procurar tratamentos de precisão mais eficazes para este tipo de cancro imediatamente após o diagnóstico e antes que ocorra uma recidiva.
“Atualmente, a grande maioria das crianças com LLA recebe tratamento curativo após o diagnóstico”, explicou a Dra. Amanda Lorentzian, primeira autora do estudo, que concluiu a investigação como parte do seu doutoramento. “A questão é tratar os 10% das crianças cujo cancro reaparece”, frisou.
A oncologia de precisão – tratamento direcionado adaptado às características moleculares únicas do cancro de uma criança – é uma das estratégias mais esperançosas para estes pacientes quando a quimioterapia padrão falha.
“Para fazer o melhor uso da oncologia de precisão, precisamos compreender melhor como os cancros evoluem e se as respostas aos tratamentos direcionados podem ser eficazes ou não quando ocorre uma recaída”, afirmou o coautor do estudo, o Dr. Philipp Lange. “Ao estudar amostras raras de progressão da LLA, podemos identificar informações significativas sobre a doença e a sua potencial vulnerabilidade, a partir do diagnóstico inicial”, destacou o investigador.
Para este estudo, os investigadores usaram amostras de biópsia de pacientes recolhidas no BC Children’s Hospital Research Institute e armazenadas no BC Children’s BioBank, bem como dados disponíveis publicamente, para rastrear como os cancros mudaram entre o diagnóstico inicial e após a recidiva.
“Este estudo é uma ótima notícia para crianças com leucemia linfoblástica aguda e as suas famílias, e estamos extremamente gratos à equipe de investigação pelo seu trabalho árduo”, disse Adrian Dix, ministro da Saúde do Canadá. “A capacidade de médicos e cientistas investigarem tratamentos de precisão para pacientes com esse tipo de cancro imediatamente após o diagnóstico trará tranquilidade aos pacientes e familiares e proporcionará melhores resultados para esse tipo de diagnóstico”, acrescentou.
A equipa analisou alterações no proteoma – as moléculas e proteínas produzidas pelas células cancerígenas – bem como as alterações nos genes oncológicos.
“As terapias não têm como alvo os genes, mas sim as proteínas”, explicou o Dr. Philipp Lange, acrescentando que, “embora muitas investigações se tenham focado nas variantes genéticas associadas a um risco aumentado de certos tipos de cancro, poucos estudos investigaram como os níveis de proteína mudam entre o diagnóstico e a recaída, especialmente quando se analisam os alvos do tratamento”. “Neste estudo, prestamos especial atenção às proteínas, além de observarmos os fatores genéticos subjacentes”, concluiu.
Como exemplo do potencial desta abordagem genómica e proteómica combinada, a equipa descobriu que os medicamentos que têm como alvo a proteína PARP1 – uma molécula envolvida na reparação do ADN – funcionaram bem contra modelos iniciais e recidivantes de LLA. É importante ressaltar que os medicamentos que visam esta via, conhecidos como inibidores de PARP, não teriam sido uma escolha óbvia se os cancros tivessem sido analisados apenas a nível genético, explicaram os autores do estudo.
“O nosso estudo destaca o grande potencial dos tratamentos selecionados com base na combinação de informações genéticas e proteicas”, disse o Dr. Christopher Maxwell, coautor do estudo. “Quando uma criança é diagnosticada com esta doença, estes tipos de análises podem ajudar-nos a concentrar-nos em tratamentos mais personalizados caso o cancro volte”, sublinhou.
Fonte: The University of British Columbia