Estudo revela como lições do espaço podem ajudar a proteger a saúde óssea de sobreviventes de cancro pediátrico

Nos anos 60, os cientistas descobriram que os astronautas perdiam densidade óssea durante missões no espaço. Agora, essa descoberta está a ajudar a compreender os efeitos a longo prazo nos ossos de crianças e jovens que sobreviveram a um cancro pediátrico. Tal como os astronautas em microgravidade, muitos destes doentes passam longos períodos imóveis durante os tratamentos, o que afeta negativamente a saúde dos ossos.

Um novo estudo conduzido por Chelsea Goodenough, do St. Jude Children’s Research Hospital (EUA), e publicado na revista JAMA Network Open, analisou a densidade mineral óssea de sobreviventes de cancro pediátrico, cinco ou mais anos após o fim do tratamento. Os dados foram recolhidos através do programa St. Jude LIFE, e mostram que estes sobreviventes têm mais probabilidade de apresentar défices de densidade óssea em comparação com outras pessoas da mesma idade.

Essas perdas podem traduzir-se, mais tarde, numa maior dependência, como a necessidade de um cuidador pessoal ou a dificuldade em manter um emprego. “Encontrámos pessoas com 30 anos com perfis funcionais comparáveis a pessoas de 70 ou 80”, explicou Kiri Ness, investigadora no mesmo centro e coautora do estudo.

Fatores que podem ser alterados fazem a diferença

Embora parte da perda óssea esteja ligada a tratamentos passados (como a radioterapia craniana, que explicou cerca de 33% dos casos), outros fatores identificados são modificáveis. Um deles é o défice hormonal — como o hipogonadismo — responsável por cerca de 25% do défice. Como existem terapias de substituição hormonal disponíveis, esta descoberta abre caminho a intervenções farmacológicas que podem ajudar a recuperar a saúde óssea nestes sobreviventes.

Outros fatores, como o tabagismo e o sedentarismo, também influenciam negativamente a densidade óssea. Apesar de representarem uma fatia menor do problema, são comportamentos que podem ser mudados. “Já existem intervenções para ambos os casos. Só precisamos de testar o seu impacto direto na densidade mineral óssea”, referiu Ness.

O papel do exercício e a importância do acompanhamento

Durante o tratamento, é natural que as crianças se sintam cansadas e passem muito tempo deitadas. No entanto, tal como acontece com os astronautas, a inatividade provoca perda óssea. A atividade física — mesmo simples saltos — pode ajudar a manter os ossos saudáveis. “Os miúdos chamam-me ‘a senhora do exercício’”, contou Ness com orgulho. “Sabem que, quando me veem, vamos mexer o corpo.”

Além do exercício, deixar de fumar (ou nunca começar) também faz parte das recomendações. No estudo, mais de 20% dos sobreviventes ainda fumavam, o que representa uma oportunidade clara para campanhas de prevenção e cessação.

Uma nova oportunidade para cuidar dos ossos

Este estudo dá um passo importante para perceber como proteger a saúde óssea a longo prazo nos sobreviventes de cancro pediátrico. “Ter baixa densidade óssea não tem de ser um problema para a vida toda”, conclui Ness. “Há formas de agir: fazer exercício, não fumar e garantir que o médico compreende as condições crónicas do doente. É assim que se conquista uma vida adulta mais saudável e independente.”

E quem sabe — talvez até uma viagem ao espaço um dia.

Fonte: St. Jude Hospital

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