Um estudo recente realizado pelo Children’s Brain Tumor Network (CBTN) analisou mais de 2.400 tumores cerebrais pediátricos para identificar o impacto das alterações estruturais do ADN no perfil molecular dos tumores e como estas influenciam a metilação do ADN e a expressão genética. Os resultados demonstram que estas alterações podem prever a sobrevivência das crianças e fornecer potenciais alvos terapêuticos.
O que são as alterações estruturais e a metilação do ADN?
- Alterações estruturais do ADN são rearranjos significativos do material genético, como deleções, duplicações ou translocações, que podem impactar genes críticos.
- Metilação do ADN é uma modificação epigenética que regula a atividade dos genes. Alterações na metilação podem silenciar genes supressores de tumores ou ativar genes que promovem o crescimento do cancro.
E quais foram as principais descobertas?
- Associação entre alterações estruturais e metilação:
Os investigadores identificaram centenas de genes nos quais a presença de alterações estruturais se associa a alterações nos padrões de metilação do ADN. Entre os genes afetados estão ATRX e CDKN2A, conhecidos pelo seu papel na progressão de tumores.
- Impacto em genes críticos:
A metilação alterada em regiões promotoras e potenciadoras (enhancers) de genes como MYC e MYCN foi associada a pior prognóstico em crianças com tumores cerebrais.
Outros genes identificados, como BCOR, RCOR2 e TERT, demonstraram associações entre alterações estruturais, padrões de metilação e taxas de sobrevivência.
- Tumores recorrentes ou progressivos:
Ao comparar tumores iniciais com tumores recorrentes nos mesmos pacientes, os investigadores observaram:
– aumento das alterações estruturais e de padrões anormais de metilação em tumores recorrentes
– a capacidade destas alterações prever a sobrevivência dos pacientes, independentemente do subtipo do tumor.
- Assinaturas genéticas e epigenéticas associadas à sobrevivência:
Os investigadores identificaram assinaturas moleculares que preveem a sobrevivência dos pacientes. Estas assinaturas foram validadas tanto em tumores pediátricos como em tumores de adultos, sugerindo uma relevância mais ampla.
Relevância e aplicações futuras
Este estudo representa um avanço significativo na compreensão dos mecanismos genéticos e epigenéticos que impulsionam os tumores cerebrais pediátricos. As descobertas podem, assim, contribuir para o desenvolvimento de terapias personalizadas; melhorar os métodos de classificação e prognóstico dos tumores; ajudar a identificar alvos terapêuticos para tumores agressivos e recorrentes.
Embora o estudo esteja focado na realidade dos Estados Unidos, as suas conclusões oferecem um enquadramento relevante para a investigação global, dado o impacto dos mecanismos genéticos e epigenéticos nos tumores pediátricos em todo o mundo.
Fonte: Nature