Estudo oferece nova esperança para o tratamento da leucemia mieloide aguda recidivante

Novas terapias desenvolvidas nos últimos anos melhoraram drasticamente as taxas de sobrevivência entre crianças com leucemia mieloide aguda (LMA). Mas, nos casos em que o cancro regressa, os médicos, as crianças e as suas famílias enfrentam um novo conjunto de desafios.

“Temos tratamentos eficazes para crianças que lutam contra a LMA, mas, para algumas, embora o cancro diminua e o paciente possa entrar em remissão, o cancro pode, infelizmente, regressar”, explicou Marco Marra, médico e investigador da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá.

“Estes cancros recorrentes são mais difíceis de tratar e as terapias iniciais já não são eficazes. Para esses pacientes, as perspetivas são, muitas vezes, pouco animadoras”, referiu.

Por que razão a LMA regressa após um período de remissão – e por que volta a ser resistente aos tratamentos convencionais – são questões-chave que Marco Marra e a sua equipa estão a procurar responder.

Agora, num estudo recente publicado na revista Cancer Cell, a equipa do investigador fez uma descoberta importante que pode eventualmente ajudar a tratar pacientes com LMA que sofrem recaídas.

“Descobrimos que as células cancerígenas na recidiva assumiram características muito diferentes daquelas que vimos no diagnóstico inicial, antes do tratamento”, explicou Marra, acrescentando que “saber como o cancro muda durante a recaída pode dar-nos uma nova visão sobre como devemos abordá-lo, possivelmente antecipar quem pode estar em risco de recaída e, talvez, no futuro, até mesmo impedir que a recaída aconteça”.

Novas possibilidades de tratamento

Os investigadores que desenvolveram este estudo tinham uma base única e alargada de amostras de medula óssea recolhidas em momentos distintos da evolução da doença em pacientes pediátricos: no diagnóstico inicial, na remissão e nos casos em que houve recidiva.

“Esta foi uma oportunidade incrivelmente rara. Os cientistas nem sempre têm amostras das diferentes fases da doença, e mais raros ainda são os exemplos em que todos os pacientes foram tratados com a mesma terapia. Essas amostras forneceram uma visão única de como este tipo de cancro evolui ao longo do tempo em vários pacientes”, sublinhou Marra.

Recorrendo ao sequenciamento unicelular, os investigadores analisaram a composição celular e genética das amostras em cada um dos três períodos. Isto permitiu-lhes identificar como o cancro havia mudado em resposta ao tratamento e quando houve recaída.

Este conhecimento “dá-nos muita esperança de que seremos capazes de desenvolver melhores tratamentos para as crianças que lutam contra esta doença devastadora”, frisou.

“Os cancros não são uniformes na sua composição. Por isso, o mais indicado é considerá-los como uma comunidade diversificada de células, mesmo quando em causa está um único paciente. Com a notável precisão proporcionada pela genómica unicelular, fomos capazes de identificar e caracterizar as células individuais que compõem essa comunidade diversificada de células”, explicou o investigador.

O que descobrimos foi o “retrato” de um cancro altamente adaptável. Após a recaída, observou-se que as células da LMA foram revertidas para um estado mais “primitivo”, assemelhando-se a um estágio anterior do desenvolvimento das células sanguíneas, conhecidas como células progenitoras ou células semelhantes a células-tronco.

“Nas células cancerígenas, vimos uma mudança para um ponto anterior na linhagem celular”, afirmou Marra. “Estes tipos de células não se dividem tão rapidamente, o que talvez as torne menos suscetíveis a tratamentos, incluindo o utilizado no ensaio clínico, permitindo-lhes sobreviver”, acrescentou.

A forma como o cancro mudou ao longo do tempo dependeu das alterações genéticas específicas que provocaram a leucemia, o que evidencia a complexa diversidade genética da LMA. Marra sublinhou que os conhecimentos gerados pela investigação sobre a evolução do cancro um dia ajudarão a orientar o desenvolvimento de estratégias de tratamento de precisão mais eficazes.

“Podemos observar especificamente essas células semelhantes a células-tronco que sabemos serem a principal causa de recaída em alguns pacientes. Podemos perguntar: Quais são as suas características? Quais são as suas vulnerabilidades? Podemos utilizar os medicamentos existentes contra esses alvos ou podemos desenvolver medicamentos inteiramente novos?”, questionou o cientista.

“Agora conhecemos o nosso inimigo, e isso significa que podemos ser racionais sobre a forma como o atacamos. Isso dá-me muita esperança de que seremos capazes de desenvolver melhores tratamentos para as crianças que lutam contra esta doença devastadora”, concluiu Marra.

Fonte: Universidade da Columbia Britânica

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