O neuroblastoma é um tumor pediátrico maligno do sistema nervoso periférico e cerca de 50% dos pacientes são casos de alto risco. As recorrências ocorrem com frequência e as terapias convencionais não são mais eficazes para essas crianças. Com a realização de biópsias líquidas é possível monitorizar o sucesso da terapia e prever a recorrência do tumor a tempo de tomar intervenções clínicas mais eficazes.
Cientistas das principais instituições europeias de investigação em oncologia pediátrica estão a testar esta promissora ferramenta de diagnóstico sob a coordenação da Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica (SIOPE) e liderança científica do Centro Princesa Máxima de Oncologia Pediátrica, nos Países Baixos, e do Instituto de Investigação do Cancro Infantil St. Anna, na Áustria. Os testes estão a ser realizados no âmbito de um projeto com duração de cinco anos.
As biópsias líquidas são uma promessa para o futuro da medicina personalizada contra o cancro: muitas crianças com neuroblastoma de alto risco, ou seja, 50% de todos os casos de neuroblastoma, correm o risco de não responder à terapia e desenvolver uma recorrência. Até agora, o sucesso da terapia tem sido monitorizado com procedimentos de imagens médicas e exames de medula óssea. Esses exames são caros, invasivos e stressantes para crianças que precisam de anestesia.
As biópsias líquidas são feitas a partir de pequenas amostras de sangue, portanto o procedimento é minimamente invasivo e comparativamente simples. No laboratório, a amostra pode ser usada para determinar se as crianças responderam às terapias. Finalmente, uma recorrência iminente pode ser detetada precocemente. São examinados marcadores genéticos tumorais no plasma sanguíneo, pequenos pedaços de ADN e RNA mensageiro (mRNA), que são libertados pelas células tumorais e fornecem informações sobre as alterações genéticas no tumor. No caso de uma recaída, estes podem ajudar a encontrar terapias direcionadas para crianças com neuroblastoma. Por exemplo, a enzima quinase do linfoma anaplásico (ALK) desempenha um papel decisivo no desenvolvimento do cancro. Se o tumor de uma criança tiver uma falha no gene ALK, ele poderá ser alvo de medicamentos inibidores de ALK.
Biópsias líquidas no ambiente clínico pela primeira vez
Um total de 25 instituições europeias líderes de investigação em oncologia pediátrica uniram agora forças para um projeto da União Europeia financiado pelo Horizonte Europa. O objetivo é estudar o benefício destes novos métodos de diagnóstico – pequenas amostras de sangue serão recolhidas várias vezes de 150 pacientes com neuroblastoma de alto risco e serão examinadas em laboratório. A SIOP coordena o projeto de investigação, que tem um financiamento total de oito milhões de euros. O principal objetivo do projeto, intitulado “A SIOPEN study to MOnitor NeuroblastomA relapse with LIquid biopsy Sensitive Analysis (MONALISA), é desenvolver um estudo clínico que possa ser rapidamente implementado na prática clínica.
A monitorização da resposta à terapia e da evolução da doença é de grande importância para melhorar a probabilidade de sobrevivência de pacientes com neuroblastoma de alto risco. O projeto MONALISA pretende colmatar as lacunas existentes no diagnóstico e estabelecer biópsias líquidas como procedimento padrão para monitorizar o neuroblastoma recidivante. O método também poderia servir como modelo para outros tipos de cancro pediátrico.
O projeto MONALISA também pretende analisar como os pacientes e pais vivenciam o uso de biópsias líquidas para poder adaptar o procedimento no futuro. Com o projeto, os cientistas estão um passo mais perto de uma medicina personalizada eficaz em crianças com neuroblastoma e oferecerão esperança de uma melhor probabilidade de cura.
Fonte: News Medical