O glioma pontino intrínseco difuso (GPID) é um tipo de cancro cerebral pediátrico agressivo que geralmente tem mau prognóstico. A cirurgia é quase impossível de realizar devido à localização do tumor e a quimioterapia tem efeitos colaterais debilitantes, por isso o desenvolvimento de novas opções de tratamento são fundamentais nesta área.
O professor e investigador do Laboratório Cold Spring Harbor, Adrian Krainer, é mais conhecido pela sua linha de investigação inovadora sobre oligonucleótidos antisense (ASOs) — moléculas que podem controlar os níveis de proteína nas células. A investigação conduzida por este especialista levou ao desenvolvimento do fármaco Spinraza®, o primeiro tratamento aprovado pela entidade que regula os medicamentos nos Estados Unidos, a FDA, para uma doença neurodegenerativa mortal chamada atrofia muscular espinhal (AME).
Após o sucesso do tratamento com este medicamento da AME, Krainer começou a investigar outras doenças em que os ASOs poderiam fazer a diferença, tendo dirigido o seu foco para o glioma pontino intrínseco difuso.
Os cientistas desenvolveram então uma potencial terapia para o GPID usando tecnologia com ASO semelhante à do Spinraza®. Esta nova terapia retardou o crescimento do tumor, reverteu algumas alterações nas células cancerígenas e aumentou as taxas de sobrevivência em ratinhos com este tipo de glioma. A investigação com base na AME lançou as bases para este novo trabalho.
“Enquanto trabalhávamos no Spinraza®, aprendemos como fornecer ASOs à medula espinhal e ao cérebro”, explicou o investigador. “Os ASOs têm efeitos duradouros. Então, sabíamos que havia potencial para o tratamento de outras doenças”, acrescentou.
O novo medicamento com base nos ASOs funciona desligando uma proteína mutante chamada H3.3K27M. No GPID, a mutação dominante impede que proteínas intrinsecamente relacionadas liguem e desliguem muitos genes. Isso leva ao crescimento celular descontrolado que caracteriza a patologia. Quando a equipa usou o novo medicamento com ASOs em ratinhos com DIPG, os genes afetados voltaram ao normal. Os tumores pararam de crescer rapidamente e os animais viveram mais tempo.
“Após o tratamento, o cancro parecia muito diferente”, afirmou Krainer. “Conseguimos ver muito menos células em proliferação e as células tumorais estavam a transformar-se em células nervosas saudáveis. Isso indica que as alterações malignas do DIPG são reversíveis até certo ponto”, disse o investigador.
Apesar da descoberta, ainda há um longo caminho a percorrer antes que esta nova terapia contra a doença possa avançar para ensaios clínicos. Além disso, o medicamento em potencial provavelmente precisaria de ser combinado com outro tratamento, como radiação ou imunoterapia.
Fonte: CSHL