Na Austrália, as taxas de sobrevivência ao cancro na infância situam-se actualmente em cerca de 80%, revelou Terry Cox. O estudante sublinha que sentiu necessidade de avançar com este estudo devido à escassa informação sobre os efeitos do cancro infantil a longo prazo nos cuidadores primários e a forma como estes afectam as relações familiares.
A investigação avaliou os doentes no período após a cura da doença e mostrou que existia uma “expectativa cultural” de que as famílias voltassem “ao normal” depois de ultrapassarem os problemas associados à existência do cancro.
“Os médicos, assistentes sociais, enfermeiros, familiares e amigos dizem que os pais devem voltar ao normal porque o seu filho superou o cancro, mas poucas pessoas têm avaliado” o que significa “voltar ao normal”.
O investigador australiano descobriu que o que as famílias pretendem é atingir um “novo normal “, ou seja, “ uma vida que é radicalmente diferente da que tinham imaginado”, dado que as perspectivas de vida destas famílias “mudaram drasticamente”, no sentido em que deixou de ser possível para os pais ignorar a linha ténue que separa “a vida da morte, especialmente quando se trata do próprio filho”.
Para o investigador, “falar sobre estas questões faz parte do processo de cura para os cuidadores”, mas, muitas vezes, a pressão de “voltar ao normal”, exercida por amigos e profissionais de saúde, faz com que “coloquem uma máscara” e ajam efectivamente “como se tudo estivesse bem”.
Cox lembra que, “depois do cancro, muitos cuidadores tornam-se gestores de efeitos tardios”, visto que, por exemplo, “a quimioterapia pode ter um impacto sobre a taxa normal de desenvolvimento cerebral numa criança” e, por isso, muitas vezes, a memória de curto prazo e concentração podem ser afectadas, o que prejudica, por sua vez, a educação de uma criança e as perspectivas de carreira no futuro.
“Mesmo com os avanços de hoje na medicina, salvar a vida de uma criança com cancro pode causar danos permanentes”, sublinha Terry Cox, defendendo a necessidade “da medicina legitimar os efeitos tardios como um resultado médico do tratamento do cancro infantil.”
O autor do trabalho entende que seria muito útil para as famílias se as crianças que sobrevivem ao problema pudessem beneficiar de um melhor acesso aos serviços de acompanhamento, tais como aulas, fisioterapia e cirurgia plástica, bem como de cuidados específicos para a visão, audição, rins, mobilidade e problemas de infertilidade.
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