O hematologista e oncologista pediátrico Leo Mascarenhas, do centro médico Cedars-Sinai Guerin Children’s, nos Estados Unidos, abordou, numa entrevista publicada pela News Wise, novas opções terapêuticas para crianças diagnosticadas com sarcoma, um tipo de cancro que se desenvolve nos ossos ou tecidos moles.
“Para muitas crianças, existem opções de tratamento e até cura”, disse Mascarenhas, recentemente nomeado diretor de Hematologia e Oncologia Pediátrica do Cedars-Sinai Guerin Children’s e diretor médico do Programa de Sarcoma do Cedars-Sinai Cancer.
Quando uma criança é diagnosticada, o que é mais importante que os pais saibam?
É importante que os pacientes críticos recebam atendimento de uma equipa especializada com amplo conhecimento no diagnóstico e tratamento de sarcomas. Uma equipa multidisciplinar é crucial para o resultado de um paciente porque essas doenças são complexas. Um diagnóstico típico de sarcoma requer experiência de um oncologista, cirurgião, oncologista de radiação, patologista, radiologista e, hoje em dia, um geneticista molecular. Todas essas informações são usadas para fazer o melhor plano de tratamento possível.
Esses pacientes também precisam de enfermeiros especializados, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. O tratamento para estas condições pode ser difícil para os pacientes e as suas famílias, por isso o apoio psicológico em cada etapa do processo e a conexão com um grupo de apoio são realmente importantes.
Que progressos foram feitos no diagnóstico e tratamento dos sarcomas pediátricos nos últimos anos?
O tratamento para sarcomas geralmente envolve uma combinação de cirurgia, quimioterapia e/ou radiação. No entanto, normalmente, não precisamos usar todas as três modalidades para tratar pacientes pediátricos. No Cedars-Sinai Guerin Children’s, criámos um plano de tratamento personalizado para cada paciente, dependendo do estágio da doença e da quantidade de tumor removido durante a cirurgia.
Com a expansão do conhecimento da genética e da genética molecular, aprendemos que muitos sarcomas são, na verdade, causados por erros que ocorrem com os genes. Compreender a biologia de como os sarcomas crescem e se espalham é um aspeto importante de como podemos avançar ainda mais em novas abordagens de tratamento.
O que os cientistas aprenderam ao estudar a genética dos sarcomas?
Existe um sarcoma único que ocorre principalmente em crianças muito pequenas, denominado sarcomas de fusão NTRK. Este é um tipo de sarcoma que ocorre durante o desenvolvimento, quando um gene chamado NTRK se funde com outro gene. Quando detetamos uma fusão, ela diz-nos qual é o diagnóstico exato, permitindo-nos recomendar a melhor combinação de tratamento possível para que o paciente obtenha os melhores resultados.
Hoje utilizamos um medicamento chamado larotrectinib, que reduz os sarcomas de fusão NTRK que não respondem à quimioterapia. Tive muita sorte de estar envolvido no desenvolvimento desse medicamento.
Qual será o foco da sua investigação no Cedars-Sinai Guerin Children’s?
Estou ansioso para trabalhar com um grande grupo de cientistas aqui para ver como traduzir as descobertas do laboratório diretamente para o cuidado dos pacientes. Conduzirei ensaios clínicos para sarcomas e certos tumores sólidos pediátricos para ver se novos tratamentos potenciais são realmente úteis. Como os sarcomas são raros, estamos a colaborar com outros cientistas no Cedars-Sinai, em todo o país e em todo o mundo para melhorar os resultados.
Que progresso está a ser feito no tratamento dos sarcomas?
Os sarcomas são cancros difíceis. Se a doença não se espalhar, as crianças terão os melhores resultados possíveis. Para crianças cujo sarcoma se espalhou para outros órgãos, ainda existem opções de tratamento.
O nosso arsenal de tratamento melhorou muito. Temos técnicas como a biópsia líquida, um simples exame de sangue que nos pode dizer se o cancro está controlado ou não. A nossa esperança no futuro é que, em vez de esperar que os exames nos digam como o doente está, possamos detetar o cancro precocemente, antes desde progredir. Ou seja, tratar o cancro quando ele ainda está num estágio muito inicial que permite curar o paciente antes que apareçam os sintomas.
Também estamos a utilizar a medicina genómica e a imunoterapia para melhorar as opções de tratamento. Tenho muita esperança – através de colaborações no Cedars-Sinai, a nível nacional e internacional – de que seremos capazes de continuar a combater esta doença e a melhorar os resultados para os pacientes.
Fonte: News Wise