Investigadores do Instituto de Medicina Molecular (iMM) João Lobo Antunes e do Brasil descobriram que um tipo agressivo de leucemia linfoblástica aguda (LLA), o tipo de cancro sanguíneo mais comum em idade pediátrica, é desencadeado por uma mutação no gene que produz uma proteína envolvida na imunidade denominada por IL-7R.
“Observámos que a ativação contínua da função da proteína IL-7R, mesmo que em níveis fisiológicos da sua expressão, desencadeia a proliferação exagerada de leucócitos (glóbulos brancos) da família dos linfócitos, originando a LLA mais agressiva. A descoberta é importante, pois, havendo uma maior compreensão sobre o funcionamento molecular da doença e as suas causas genéticas, é possível propor novos tratamentos, principalmente para os casos de recidiva ou em que o tratamento convencional não funciona”, afirmou José Andrés Yunes, investigador do Centro Infantil Boldrini, em Campinas, no Estado brasileiro de São Paulo.
A investigação mostrou que a mutação no gene produtor da IL-7R não é determinante para esta doença, mas este também estimula novas mutações noutros genes – como o PAX5 e o KRAS – que fazem com que a patologia progrida.
“A mutação do IL-7R não é suficiente para originar a leucemia. Existem outros genes que também estão envolvidos na doença. Para que a leucemia se desenvolva são necessárias outras mutações que atuem juntamente com o IL-7R para interromper o programa de diferenciação celular e fazer com que as células continuem a proliferar de forma descontrolada e sobrevivam”, explicou José Andrés.
A leucemia linfoblástica aguda caracteriza-se pela proliferação descontrolada de células B – progenitoras dos linfócitos. Atualmente, terapias convencionais, como a quimioterapia, são eficazes em até 90 por cento dos casos.
“A leucemia desenvolvida em ratinhos durante o estudo assemelhou-se a um subtipo da doença denominado por LLA cromossoma Philadelfia positivo (Ph+), que é um tipo mais agressivo de LLA e acomete tanto crianças quanto adultos, mas é mais frequente nos adolescentes e adultos jovens”, disse o investigador.
Durante a investigação, foram ainda realizadas análises no exoma – parte do genoma onde se localizam os genes codificadores de proteína e, portanto, onde há mais probabilidade de ocorrerem mutações causadoras de doenças.
No iMM, “foram testados alguns medicamentos que inibem os efeitos moleculares do IL-7R. Foram realizados estudos com painéis de fármacos que poderão, no futuro, ser testados em animais e depois em humanos até que se comprove a sua efetividade. Estas descobertas são importantes, pois permitem também propor o tratamento mais indicado para cada paciente a partir da identificação dessas alterações”, concluiu José Andrés Yunes.
Fonte: Diário da Saúde