O Serviço de Pediatria do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPO de Lisboa) anunciou que, a partir do próximo mês de março, cerca de três dezenas de crianças e jovens com leucemia linfoblástica aguda (LLA) tratados no Instituto vão ter a possibilidade de integrar um ensaio clínico promovido pelo consórcio internacional ALLTogether.
Segundo afirma o IPO de Lisboa, “esta é a primeira vez que um grupo tão grande de doentes pediátricos seguidos no IPO de Lisboa fazem parte do mesmo estudo internacional, no qual também participam crianças e jovens dos serviços de pediatria do IPO do Porto e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC)”.
Estão também envolvidos neste projeto de investigação centros pediátricos oncológicos de vários países, como a Suécia, Irlanda, Alemanha, Reino Unido e Países Baixos.
Por ano, deverão integrar, em média, o ensaio clínico – que consiste num estudo em que se avalia o efeito de um ou mais medicamentos para uso humano, a fim de apurar a respetiva segurança e eficácia – cerca de 35 crianças do IPO do Lisboa.
Ensaio clínico deve integrar no total 150 crianças do IPO de Lisboa e 300 a nível nacional
Até ao final do projeto de investigação, prevê-se que sejam abrangidas pelo ensaio clínico 150 crianças do Instituto de um total de 300 no país inteiro.
O ensaio clínico tem como alguns dos objetivos principais encontrar formas de melhorar o tratamento das crianças com LLA (como o ajuste do tratamento com base na medição de atividade dos medicamentos ou a adição de novas terapêuticas), aferir a qualidade de vida dos doentes com LLA e o impacto do tratamento, avaliar a possibilidade de redução da intensidade terapêutica e a correspondente diminuição dos efeitos tóxicos da quimioterapia – a curto e a longo prazo.
Ximo Duarte, médico do Serviço de Pediatria do IPO de Lisboa, explica que “a LLA corresponde a 30% dos casos de cancro pediátrico diagnosticados por ano” e destaca que, “atualmente, a sobrevida de uma criança com LLA é de 90%”.
Contudo, “as LLA não são todas iguais”, havendo subgrupos da doença “que não chegam nem de perto nem de longe a estes números”.
O ALLTogether apresenta estratégias adaptadas a cada subgrupo, numa abordagem de medicina personalizada, com alguns a realizar imunoterapia inovadora e outros com um ajuste individualizado da medicação.
Uma das vantagens de integrar estes projetos e as suas redes internacionais é a escala, sublinha Ximo Duarte. “O número de crianças e jovens envolvidos amplia a base de conhecimento para o tratamento de situações mais complicadas. Um caso raro que surja cá já pode ter aparecido duas ou três vezes em países com mais população”, refere.
Atualmente, são poucos os medicamentos oncológicos desenvolvidos diretamente para as idades pediátricas, “por ser uma patologia rara numa população vulnerável”. A grande maioria das novas terapêuticas são adaptações das dos adultos.
No entanto, as características da doença oncológica nas crianças e as que são próprias das crianças, com o corpo em crescimento e o metabolismo mais rápido, e sem as doenças pré-existentes dos adultos, fazem com que, por vezes, essa transição não seja simples, já que “as crianças não são pequenos adultos”, afirma o médico. Por isso, é sempre preciso avaliar o efeito dos novos tratamentos num ensaio na população pediátrica.
A LLA é a doença oncológica mais frequente nas crianças e deve-se a uma alteração no desenvolvimento das células da medula óssea. Por ano, são diagnosticados cerca de 70 novos casos em Portugal.
O IPO de Lisboa é Centro de Referência para o tratamento do cancro pediátrico e também é reconhecido pelas redes de referenciação europeias European Reference Network Paediatric Cancer (PaedCan ERN). O Instituto é parceiro da Fundação Rui Osório de Castro no projeto PIPOP – Portal de Informação Português de Oncologia Pediátrica, plataforma que agrega informação sobre os diferentes tipos de cancro pediátrico.
Fonte: IPO de Lisboa