A dança foi um escape para Ava Blaser, uma menina de 12 anos que se viu obrigada a enfrentar o cancro duas vezes.
A jovem sobrevivente acredita que a sua experiência de isolamento, que foi obrigada a fazer para proteger o seu sistema imunitário, enfraquecido devido à quimioterapia a que foi sujeita, pode ajudar outras pessoas a lidar com a quarentena devido à pandemia da COVID-19.
Ava faz agora parte da Resilience Campaign, um esforço internacional que visa destacar a importância de as pessoas estarem em quarentena, para além de promover estratégias que as ajudem a enfrentar esta provação; tudo isto a partir de lições aprendidas por sobreviventes de cancro.
“O principal é estarmos gratos. Temos que agradecer o facto de estarmos vivos e saudáveis. Por causa do cancro, eu perdi dois dos meus melhores amigos que, acredito, dariam tudo para poder estar vivos, mesmo neste momento difícil que estamos a atravessar… pensem nisso e digam-me lá: comparado com isto, será que estar em casa é assim tão difícil?”.
Custa a acreditar que estas palavras sábias venham da boca de uma menina de 12 anos; mas Ava não é uma menina qualquer. Em 2011, com apenas 3 anos, a jovem foi diagnosticada com um tumor bilateral de Wilms em estágio V em ambos os rins.
Após 12 semanas de quimioterapia, os médicos removeram o rim esquerdo de Ava e parte do seu rim direito; a jovem foi então sujeita a 6 rondas de radioterapia, de forma a eliminar qualquer crescimento cancerígeno remanescente. Depois, vieram mais 15 semanas intensas de quimioterapia.
Durante todo este tempo, Ava e, por cautela, os seus irmãos, não puderam fazer muitas das coisas que gostavam, como ir a festas de aniversario ou brincar no parque.
“Aprendi que a saúde vem em primeiro lugar. Não importar se queremos ver pessoas, se queremos dar um abraço. De que nos serve um abraço se pomos a nossa saúde e a dos outros em risco?”.
Para Ava, quanto mais pessoas seguirem as regras, mais rapidamente todo este processo chegará ao fim.
Mas, o que fazer para passar o tempo em casa?
“No meu caso, eu dancei. Dancei até me doerem os pés. Acordava e dançava. E percebi que ficar isolada não era a pior coisa do mundo. Não podia sair, mas tinha a minha família ao meu lado e tinha a minha paixão pela dança, que me ajudava a passar o tempo”.
Em janeiro de 2012, Ava entrou em remissão, mas 6 anos depois, a jovem sofreu uma recidiva; após ser novamente sujeita a quimioterapia e a cirurgias adicionais, e a ser obrigada a estar confinada em sua casa, Ava foi declarada livre de cancro em setembro de 2018.
Durante estes momentos, a jovem descobriu que uma atitude positiva ajuda muito; confinada em casa, Ava foi encontrando outras formas, para além da dança, de se manter ocupada, fosse através de videochamadas, de vídeos para o YouTube ou aprendendo a maquilhar-se.
Depois de curada, Ava tornou-se uma defensora da oncologia pediátrica; daí surgiu o convite para participar na Resilience Campaign, que fornece doses diárias de esperança a todo o mundo através de sobreviventes de cancro que sofreram na pele o isolamento e a solidão.
“O tipo de ansiedade e incerteza que todos nós estamos a enfrentar devido à COVID-19 é parecido com aquilo que os sobreviventes de cancro enfrentam diariamente. O não entender o que se passa, o não saber quando tudo isto vai terminar, o não saber o que o futuro reserva…todas as questões com que estamos a lidar agora, são as mesmas que todos os sobreviventes e doentes oncológicos enfrentam”.
As palavras são de Jenna Benn Shersher, fundadora e CEO da Twist Out Cancer, uma organização sem fins lucrativos internacional que fornece apoio psicossocial a qualquer pessoa afetada pelo cancro, através de artes criativas; foi através da Twist Out Cancer que a Resilience Campaign nasceu.
“O objetivo é ajudar as pessoas. É uni-las para falarem sobre esta ‘experiência coletiva’ que está a ser a pandemia da COVID-19. Qualquer pessoa afetada pelo cancro pode enviar vídeos para twistoutcancer.org/resilience”.
Fonte: Daily Herald