A Unidade Local de Saúde de Coimbra (ULS) iniciou recentemente os primeiros tratamentos com células CAR-T, uma terapia inovadora e personalizada que usa o próprio sistema imunitário do doente para combater o cancro. Desde o final de 2024, quatro doentes com linfoma não-Hodgkin difuso de grandes células B — uma forma agressiva de cancro do sangue — foram já tratados com este método no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
A imunoterapia com células CAR-T é considerada uma opção de última linha para casos em que os tratamentos convencionais falham. Em Portugal, este tipo de terapia começou a ser aplicada, em 2019, no Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO), posteriormente alargado a Lisboa — tanto no IPO como no Hospital de Santa Maria — e agora a Coimbra. No total, quase 200 doentes foram tratados em Portugal desde então.
“Agora há a possibilidade de termos uma estratégia curativa”, refere Catarina Geraldes, Diretora do Serviço de Hematologia Clínica da ULS de Coimbra.
Os primeiros resultados promissores
Esta terapia consiste em recolher linfócitos T (células do sistema imunitário) do próprio doente, que são depois modificados em laboratório para reconhecer e atacar células cancerígenas. Cada conjunto de células CAR-T é feito à medida, de acordo com o tipo de tumor. Depois de preparados, são reintroduzidos no organismo para combater o cancro.
Apesar de não ser uma solução definitiva para todos os casos, os resultados são encorajadores: no IPO do Porto, 65% dos doentes avaliados tiveram resposta completa ao tratamento. Contudo, cerca de um em cada cinco voltou a ter recaída.
Lisboa já utiliza a terapia CAR-T também em crianças com leucemia linfoblástica aguda, uma das formas mais comuns de cancro no sangue na infância. Desde dezembro de 2022, seis crianças foram tratadas com esta abordagem no IPO de Lisboa.
A terapia CAR-T foi aprovada nos Estados Unidos em 2017, após décadas de investigação. Em Portugal, continua a ser usada apenas em contextos muito específicos e sob critérios clínicos rigorosos. A entrada de Coimbra nesta rede de tratamento representa um avanço importante na equidade de acesso a terapias inovadoras, com o objetivo de, no futuro, alargar a técnica a mais tipos de cancro.
Fonte: Público