Angela Koehler, professora do MIT – Massachusetts Institute of Technology, faz parte de uma equipa de pesquisa que recebeu uma subvenção federal para estudar, durante cerca de 5 anos, uma das formas menos compreendidas, porém mais fatais, de cancro infantil, o rabdomiossarcoma alveolar com fusão positiva.
A subvenção de 5,8 milhões de dólares (cerca de 5,2 milhões de euros) faz parte da Iniciativa Cancer Moonshot, um programa do National Institutes of Health que, durante 7 anos, irá atribuir mais de 1,8 mil milhões de dólares (cerca de 1,6 mil milhões de euros) para acelerar a descoberta de novas maneiras de prevenir, diagnosticar e curar o cancro.
Angela Koehler irá trabalhar juntamente com investigadores do MIT, do National Cancer Institute norte-americano e das universidades de Zurique, na Alemanha, e da Duke, nos Estados Unidos.
O rabdomiossarcoma alveolar com fusão positiva é um tipo de cancro que afeta o tecido muscular esquelético; bastante raro, esta neoplasia representa cerca de 1% de todos os cancros entre crianças e adolescentes. A taxa de sobrevivência ronda os cerca de 30%, mas em caso de metástase, o número desce para apenas 10%.
Atualmente, não existem terapias específicas disponíveis, o que se explica pelo fato de esta ser uma doença pouco conhecida, sendo difícil para a indústria farmacêutica empreender o desenvolvimento dispendioso de novos tratamentos para um número tão pequeno de pacientes.
Esta nova concessão permitirá aos investigadores fazerem progressos significativos no sentido de melhorar a compreensão dos fundamentos moleculares do rabdomiossarcoma alveolar com fusão positiva e identificar compostos que possam ser desenvolvidos em novos tratamentos.
“As oncoproteínas de fusão que envolvem fatores de transcrição são o santo graal para a descoberta de fármacos, quase todas as abordagens tradicionais têm falhado neste tipo de cancro”, disse Angela Koehler.
“Ao combinar novas abordagens tecnológicas, podemos ter aberto a porta de um desses alvos. Esta subvenção permitirá desenvolver novas abordagens para o conjunto mais amplo de oncoproteínas estudadas pelo National Cancer Institute.”
As oncoproteínas de fusão – proteínas que resultam de uma mutação complexa que une dois genes – geram muitos tipos de cancro infantil. No caso do rabdomiossarcoma alveolar com fusão positiva, o culpado mais comum é uma quimera dos fatores de transcrição PAX3 e FOXO1, duas proteínas que fazem parte do mecanismo molecular que regula a expressão de genes.
Ao contrário de muitas outras oncoproteínas, que podem estar presentes tanto nas células cancerígenas quanto nas normais, as oncoproteínas de fusão como PAX3-FOXO1 estão presentes apenas nas células cancerígenas. Os medicamentos direcionados ao PAX3-FOXO1 têm o potencial de atacar a causa do desenvolvimento do cancro, deixando as células saudáveis intactas.
No entanto, o PAX3-FOXO1 é considerado um alvo “incansável”.
Como outros fatores de transcrição, a sua natureza desordenada resiste aos métodos convencionais de estudo de estruturas, como a cristalografia. Sem um conhecimento abrangente da estrutura, é um desafio projetar um novo composto que interfira com a sua função.
Angela Koehler irá liderar um projeto com Beat Schaefer, da Universidade de Zurique, para selecionar novos agentes que bloqueiem a atividade do PAX3-FOXO1.
Se o projeto conseguir atingir o PAX3-FOXO1, as sondas resultantes – que serão disponibilizadas gratuitamente para a comunidade de pesquisa em geral – poderão servir como ponto de partida para o desenvolvimento de novas terapias para rabdomiossarcoma alveolar com fusão positiva, bem como uma ferramenta para estudar de que forma o PAX3-FOXO1 interage com outras proteínas e com o ADN.
Mas as aplicações dos resultados do projeto podem estender-se muito para além desta doença; as abordagens desenvolvidas podem ser usadas para identificar alvos terapêuticos para outros cancros, como o sarcoma de Ewing e leucemia mieloide aguda.
Fonte: MIT News