Investigadores acreditam que, brevemente, existirão novos tratamentos para o glioma pontino intrínseco difuso, uma forma de cancro cerebral que atinge crianças pequenas e que, atualmente, não tem cura.
Estudos recentes, feitos em modelos animais, identificaram um fármaco experimental que destruiu as células da doença.
A pesquisa, publicada na revista Proceedings of National Academy of Sciences, mostrou que este fármaco atua nas vias celulares do colesterol; os resultados sugerem que essas vias podem ser úteis para tratar uma variedade de cancros cerebrais.
Os tumores do glioma pontino intrínseco difuso estão localizados numa estrutura altamente sensível que liga o cérebro à medula espinhal; a remoção cirúrgica destes tumores é efetivamente impossível, uma vez que representa um risco de dano cerebral fatal.
E, embora a radioterapia possa ser utilizada para reduzir temporariamente os sintomas, o cancro crescerá de forma inevitável, daí que a taxa de sobrevivência média seja muito diminuta.
Ou seja: há uma necessidade urgente de novas maneiras que tratem crianças com esta doença.
Em 2014, uma colaboração científica entre laboratórios e o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, nos Estados Unidos, mostrou que um fármaco, conhecido como MI-2, parava o crescimento de tumores de glioma pontino intrínseco difuso em ratos com a doença.
O fármaco já estava no radar de cientistas para utilização no tratamento da leucemia, pelo que os investigadores suspeitavam que os seus efeitos seriam semelhantes em casos de glioma pontino intrínseco difuso.
“A nossa primeira hipótese era de que o medicamento desativava os genes, através da sua interação com o menin [uma proteína que regula a expressão génica]. Mas, com o passar do tempo, vimos que muitas das nossas suspeitas não se confirmavam”, disseram os cientistas.
Por exemplo, quando os investigadores removeram geneticamente a menin de células de glioma, essas células permaneceram sensíveis ao MI-2, indicando que o fármaco exercia os seus efeitos através de uma via distinta da observada na leucemia.
Desta forma, os cientistas descobriram que as células de glioma pontino intrínseco difuso expostas ao MI-2 não conseguiam manter níveis saudáveis de colesterol e morriam rapidamente; mas as células poderiam ser resgatadas com uma dose de colesterol suplementar – sugerindo que, no caso do glioma, o MI-2 funcionaria esgotando o nutriente.
Eventualmente, os investigadores descobriram que o MI-2 inibe diretamente a sintetase de lanosterol, uma enzima envolvida na produção de colesterol.
O estudo também verificou que, se por um lado, o MI-2 destrói as células do glioma, por outro, não danifica as células normais do cérebro.
As descobertas são consistentes com as de outras pesquisas que mostraram que algumas células cancerígenas são particularmente vulneráveis a distúrbios do colesterol.
Este estudo contribuiu para um crescente número de pesquisas que apontam para a interferência do colesterol como uma nova e promissora maneira de tratar o cancro.
“Alguns fármacos, inicialmente pensados para pessoas com colesterol elevado, foram projetados para atacar a sintetase do lanosterol. Um deles é ainda mais potente que o MI-2, por isso agora estamos a trabalhar com uma equipa de biólogos químicos para ver se podemos modificar o medicamento de maneira a que ele consiga atingir o cérebro”, explicaram os autores do estudo.
Esta pesquisa destacou ainda a importância da necessidade de se saber, não apenas que um fármaco funciona, mas também de que maneira funciona.
Neste caso, a descoberta de que o MI-2 atua na sintetase do lanosterol revelou que os tumores do glioma pontino intrínseco difuso são sensíveis à interferência do colesterol – uma descoberta que abre caminhos para a produção de medicamentos ainda mais eficazes.
Fonte: Eurekalert