Cientistas testam nova abordagem contra cancro cerebral

Dois dos cancros cerebrais pediátricos mais raros e mais difíceis de tratar aquando de uma recidiva, o meduloblastoma e o ependimoma, foram alvo de um ensaio clínico que tentou utilizar um novo tipo de terapia.

Uma equipa internacional liderada por cientistas Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, em parceria com o Hospital Infantil do Texas e com o Hospital para Crianças Doentes, nos Estados Unidos e no Canadá, respetivamente, desenvolveu uma nova abordagem que oferece terapia de células T recetora de antigénio quimérico (CAR) direcionada de maneira apropriada diretamente para o líquido cefalorraquidiano que circunda o tumor.

Segundo os investigadores, que relataram as suas descobertas na revista Nature Medicine, esta nova abordagem foi eficaz no tratamento destes cancros, que foram implantados em modelos animais.

As descobertas apoiam os resultados de outros estudos clínicos que também tentaram avaliar esta estratégia para o tratamento do cancro cerebral pediátrico, a causa mais comum de morte por cancro infantil.

De facto, está já a ser preparado um ensaio clínico para crianças com cancro internadas no Hospital Infantil do Texas e no Baylor College of Medicine, que tentará testar a segurança e a eficácia anti-tumoral desta abordagem.

“As recidivas do meduloblastoma e do ependimoma podem ser disseminadas por todo o revestimento do cérebro e da medula espinhal, banhados no líquido cefalorraquidiano. Este local oferece a oportunidade de administrar terapias no compartimento do líquido cefalorraquidiano e pode proporcionar uma melhor probabilidade de a terapia atingir e eliminar o tumor do que se a administrarmos através da corrente sanguínea”.

As palavras são de um dos principais investigadores do estudo, o médico Nabil Ahmed, especializado em pediatria e imunologia.

“A grande maioria das crianças com meduloblastoma metastático recidivado ou ependimoma atualmente tem um prognóstico mortal, por isso é muito empolgante pensar que fomos capazes de identificar uma nova abordagem para tratar esta população de pacientes”.

Este projeto foi liderado pela investigadora Laura Donovan, que realizou estudos moleculares em profundidade do perfil alvo de meduloblastoma e ependimoma recidivados; esses estudos orientaram o “design” das células CAR T projetadas por Nabil Ahmed para atingir as moléculas de cancro mais apropriadas.

As células CAR T são uma forma de imunoterapia que envolve a engenharia de células T, um tipo de célula imune que combate o cancro; os cientistas modificaram geneticamente as células CAR T para reconhecer moléculas específicas na superfície das células tumorais.

Quando essas células encontram o tumor, elas podem combatê-lo com mais eficácia.

As células CAR T têm sido impressionantemente eficazes em pacientes com certos tipos de leucemia.

Em estudos realizados em ratos, as células CAR T foram administradas no líquido cefalorraquidiano ao redor do tumor ou na corrente sanguínea dos animais que abrigavam vários tumores de meduloblastoma e ependimoma derivados de pacientes. O tamanho do tumor e a sobrevivência dos animais foram estudados durante cerca de 200 dias.

Os resultados mostraram que a administração de células CAR T específicas do tumor no líquido cefalorraquidiano foi mais eficaz do que a administração via corrente sanguínea.

“Ao contrário do que acontece quando administramos a terapia via corrente sanguínea, a libertação do líquido cefalorraquidiano supera a barreira hematoencefálica e também oferece a vantagem de minimizar a exposição de outros tecidos do corpo às células CAR T e, consequentemente, os possíveis efeitos secundários”.

Em algumas das suas experiências, os cientistas combinaram células CAR T com um medicamento contra o cancro já aprovado, o azacytidine; os resultados mostraram que a combinação de imunoterapia com este fármaco foi significativamente mais eficaz do que qualquer tratamento isolado.

Fonte: Eurekalert

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