Cientistas analisam origem de tumores cerebrais pediátricos

Uma nova investigação descobriu que vários tipos de tumores cerebrais pediátricos altamente agressivos têm origem durante o processo que envolve o desenvolvimento cerebral.

A pesquisa, feita em parceria por instituições de investigação canadianas, acredita que o evento genético que desencadeia a doença ocorre nas fases mais precoces do desenvolvimento celular, numa época pré-natal.

“Conseguimos determinar que o desenvolvimento estagnado de células progenitoras ocorre em locais do cérebro onde emerge uma grande proporção de tumores embrionários e pediátricos de alto grau, responsável por vários cancros cerebrais infantis”, disse Claudia Kleinman, investigadora no Lady Davis Institute e docente de Genética Humana na Universidade McGill.

Em vez de se desenvolver normalmente, o processo das células é interrompido e elas transformam-se em doenças malignas”, explicou a cientista, ressalvando que, “ainda assim, mantêm muitas caraterísticas presentes nas células originais. Graças a isso, conseguimos identificar as origens do tumor entre as centenas de tipos diferentes de células presentes no cérebro“.

“Com estas novas tecnologias, podemos analisar as células tumorais individualmente e tudo aponta para que o desenvolvimento estagnado está na origem de vários tumores cerebrais de alto risco em crianças”, afirmou Nada Jabado, hemato-oncologista no Montreal Children’s Hospital e professora de Pediatria e Genética Humana na Universidade McGill.

“Demos a esta descoberta o nome de Síndrome de Peter Pan, porque estas células ficam ‘presas no tempo’, incapazes de envelhecer e essa, acreditamos, é a causa destes tumores. Agora queremos identificar qual a melhor forma de desbloquear estas células para conseguirmos promover a sua diferenciação e, desta forma, permitir que os processos normais assumam o controlo”, disse Naba.

Os tumores cerebrais são a principal causa de morte por cancro infantil; para vários desses tumores, não existem terapias eficazes, sendo que a maioria dos pacientes sobrevive apenas cerca de 2 anos após o diagnóstico

“O progresso que tem vindo a ser feito nesta área é francamente limitado”, alertou Claudia Kleinman.

“Para conseguirmos tratar estes tumores temos que identificar o processo biológico. E é isso que acreditamos ter alcançado. Depois de entendermos os mecanismos subjacentes, podemos começar a procurar meios que desbloqueiem o desenvolvimento interrompido das células. A complexidade do cérebro é espantosa, mas fizemos um grande progresso”.

Ao aplicar técnicas sofisticadas de sequenciação de células únicas e análise de dados em larga escala, a investigação foi capaz de compilar o primeiro perfil abrangente de uma região cerebral que se desenvolve na fase pré-natal e que é uma estrutura importante na parte superior do tronco cerebral que controla a respiração, além de sensações como audição, paladar e equilíbrio.

Para além de Claudia Kleinman e de Naba Jabado, a investigação também contou com a participação de Michael Taylor, neurocirurgião pediátrico no Hospital for Sick Children; enquanto Naba e Michael realizaram grande parte da pesquisa clínica, Claudia foi responsável pela área da bioinformática, tendo conseguido estabelecer a identidade molecular dos tipos de células nesta e noutras regiões do cérebro, bem como a dinâmica subjacente à sua diferenciação.

A equipa criou um atlas de mais de 65 mil células individuais e definiu a dinâmica de desenvolvimento para 191 populações celulares distintas; de seguida, os cientistas mapearam amostras de pacientes para esse atlas e identificaram as origens do meduloblastoma, de tumores embrionários e de gliomas de alto grau.

“Os resultados apoiam a existência de um modelo etiológico comum para estes tumores, onde alterações genéticas em tipos de células vulneráveis ​​interrompem os programas de expressão genética de desenvolvimento, desencadeando a oncogénese”.

“Como a génese dos tumores acontece numa fase muito precoce do desenvolvimento cerebral, estamos certos de que não existem instigadores ambientais ou medidas preventivas que os pais possam tomar”, referem os cientistas.

Os resultados, que segundo a equipa representam um avanço significativo na compreensão destes tipos de cancro, foram publicados na revista Nature Genetics.

Fonte: Eurekalert

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