A acumulação excessiva de células de Langerhans no corpo causa uma doença inflamatória rara, e potencialmente fatal, em crianças, denominada histiocitose de células de Langerhans.
As células de Langerhans são células imunes presentes em vários tipos de tecidos, incluindo ossos, pele, gânglios linfáticos e fígado. As opções atuais de tratamento para a histiocitose de células de Langerhans requerem terapia direcionada ao longo da vida, sendo que essas mesmas terapias podem causar efeitos secundários significativos.
As células de Langerhans imaturas e mutantes acumulam-se nos tecidos, formando tumores aos quais se dá o nome de granulomas, o que leva alguns cientistas a classificar a histiocitose de células de Langerhans como uma forma de cancro – contudo, esta nomenclatura é controversa, uma vez que estas células permanecem num equilíbrio único entre a apoptose e a sobrevivência num nicho inflamatório.
As origens celulares e moleculares da histiocitose de células de Langerhans foram relatadas recentemente num estudo publicado na revista Science Immunology – os cientistas acreditam que estas novas descobertas podem resultar no desenvolvimento de tratamentos capazes de eliminar estas células patológicas.
“Nesta investigação, os cientistas analisaram imagens de lesões de histiocitose de células de Langerhans, fotos essas com uma resolução extremamente alta – desta forma, conseguiram identificar a origem, a diferenciação e as interações dinâmicas entre estas células”, explicou Carl Allen, do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos.
“Caracterizar as origens e atividades destas células que levam à formação da histiocitose de células de Langerhans é um passo essencial para criar e testar novas estratégias terapêuticas para os pacientes diagnosticados”.
Há décadas que a origem das células causadoras desta doença é discutida – “alguns cientistas estão convencidos de que a histiocitose de células de Langerhans deriva de um certo tipo de célula imune chamada células dendríticas, enquanto outros acreditam esta doença tem origem em células denominadas de monócitos”, disse Egle Kvedaraite, cientista do Karolinska Institute, na Suécia, e principal autor do estudo.
Investigações anteriores mostraram que histiocitose de células de Langerhans é marcada por uma diferenciação anormal de fagócitos mononucleares que resultam em lesões inflamatórias com células dendríticas – no entanto, as interações moleculares e celulares que mantêm o acima mencionado “estado único de equilíbrio” não são claras.
Os cientistas do Karolinska Institute, em colaboração com o Singapore Immunology Network e com a Universidade de Newcastle, no Reino Unido, utilizaram a sequenciação de RNA (entre outros processos) para analisar biópsias de quatro pacientes pediátricos com histiocitose de células de Langerhans e avaliaram a heterogeneidade dos granulomas comparando-os com fagócitos mononucleares normais nas lesões.
“Encontrámos assinaturas discriminatórias de histiocitose de células de Langerhans, o que aponta para a senescência e para a fuga da vigilância imunológica do tumor”.
Os cientistas encontraram duas linhagens principais de células de Langerhans nas lesões com características de células dendríticas (DC2 and DC3) – através da observação de imagens com alta resolução, a investigação foi capaz de validar a presença destas células em várias amostras de tecido de histiocitose de células de Langerhans. As células de Langerhans mutantes tinham propriedades semelhantes a monócitos e células dendríticas, assim como a DC3, um tipo relativamente novo de célula dendrítica.
“Hoje sabemos que a DC3 tem uma via de desenvolvimento separada de outras células dendríticas e monócitos. O conhecimento desse detalhe foi crucial para a nossa investigação.”.
Explorações adicionais nas interações moleculares entre DC2 e DC3 mostraram que a sinalização Notch – um sistema de interação celular evolutivamente conservado que controla o metabolismo celular, a proliferação e a morte – permitiu que os dois tipos de células cooperassem e se reforçassem mutuamente durante a progressão da histiocitose de células de Langerhans.
“Os dados sugerem a existência de um modelo de origem dupla de células de Langerhans, unidas pela cooperatividade mediada por Notch, e fornecem novos conhecimentos sobre o desenvolvimento de lesões de células de Langerhans e as suas potenciais vulnerabilidades a novas abordagens terapêuticas”.
Além de uma origem dupla de células de Langerhans, o estudo ressalta o impacto das sugestões do microambiente no fenótipo e no perfil de expressão génica das células de Langerhans.
Fonte: Genetic Engineering & Biotechnology News