Uma enzima que impulsiona o crescimento de um tipo de cancro cerebral infantil, muitas vezes letal, pode ser a chave para um tratamento futuro, de acordo com uma nova investigação realizada pela Universidade McMaster, no Canadá.
Cientistas descobriram que, ao bloquear a produção de uma enzima designada de DHODH, eram capazes de interromper o crescimento do meduloblastoma amplificado pelo gene MYC, o subtipo mais agressivo deste cancro, em modelos animais.
O principal autor desta investigação, William Gwynne, explicou que, ao mesmo tempo que o bloqueio do DHODH impede a propagação da doença, não prejudica o cérebro ou as células nervosas – desta forma, esta nova abordagem poderá evitar os efeitos secundários promovidos pelos tratamentos atuais, incluindo radioterapia e quimioterapia, que podem prejudicar o desenvolvimento do cérebro das crianças, mesmo que o cancro seja tratado com sucesso.
“Este potencial caminho de tratamento vai-nos permitir ‘matar as ervas daninhas’, ao mesmo tempo que salvamos o cérebro em desenvolvimento”, disse o investigador.
Publicados na revista Cancer Cell, os resultados mostraram que “este alvo de tratamento DHODH é muito promissor, mas levará vários anos até que possamos chegar ao estágio de ensaio clínico. Este potencial novo tratamento, ao contrário dos atuais, não será tóxico para o cérebro em desenvolvimento”.
William diz que todos os tipos de meduloblastoma têm origem nas células estaminais neurais no cerebelo, a parte do cérebro que controla ações voluntárias como o andar, o equilíbrio, a coordenação e a fala – o cerebelo desenvolve-se completamente após o nascimento de uma criança.
Este tipo de cancro origina quando algo de errado acontece durante o processo de desenvolvimento celular no cerebelo – “estudar as causas dessa disfunção pode levar à descoberta de novos tratamentos”, defende o investigador, que afirma que “o que me faz acordar todas as manhãs é a possibilidade de beneficiar outras pessoas através de descobertas nunca antes vistas”.
Os sintomas comuns do meduloblastoma incluem dificuldades de marcha e equilíbrio, náuseas, dores de cabeça e inchaço. No momento do diagnóstico, a maioria das crianças já apresentam metástases cerebrais e no fluido espinhal, especialmente se o meduloblastoma for do subtipo MYC amplificado.
Atualmente, segundo o investigador, o meduloblastoma é tipo de cancro cerebral mais comummente diagnosticado em crianças, sendo que os tumores cerebrais são agora a neoplasia infantil mais letal.
“Nas últimas duas décadas, fizemos avanços significativos nos tratamentos, seja ao nível da quimioterapia, da radioterapia ou da cirurgia, de modo que a taxa de sobrevivência a 5 anos para o meduloblastoma é agora de mais de 70%. Ainda assim, cerca de 30% das crianças cujo cancro não responde aos tratamentos atualmente disponíveis não têm outras opções e acabam por falecer.”
Fonte: McMaster University