Uma nova investigação, realizada pelo Institut National de la Sante et de la Recherche Medicale, em França, tentou descobrir o porquê de algumas formas de leucemia se desenvolverem maioritariamente em crianças.
Todos os anos, em França, cerca de 2 500 crianças e adolescentes são diagnosticados com cancro infantil, sendo que a leucemia representa um terço desses casos.
Nas últimas décadas, a pesquisa sobre o cancro infantil tem vindo a aumentar, assim como os tratamentos que, para alguns tipos de cancro, têm vindo a tornar-se cada vez mais eficazes.
Contudo, o prognóstico permanece particularmente desfavorável para alguns jovens pacientes, nomeadamente aqueles diagnosticados com leucemia mielóide aguda, o tipo de leucemia responsável por 15% dos casos de leucemia diagnosticados em crianças e adolescentes.
Apesar do progresso nos tratamentos, as taxas de sobrevivência a 5 anos são de cerca de 60%, sendo que a recidiva é a principal causa de morte.
Uma fusão anómala de proteínas
Existem vários subtipos de leucemia mielóide aguda; uma das mais agressivas, associada à resistência aos tratamentos e a um prognóstico particularmente desfavorável, é a leucemia megacarioblástica aguda, na qual os cientistas franceses concentraram os seus esforços.
Como explicado na revista Cancer Discovery, o estudo teve início em 2012, quando os investigadores obtiveram amostras de pacientes jovens com a doença; a análise dessas amostras revelou que a leucemia megacarioblástica aguda apresentava frequentemente alterações genéticas que levavam à expressão de uma proteína anormal, resultante da fusão de duas proteínas normalmente independentes na célula.
Na altura, e embora essa fusão – conhecida como ETO2-GLIS2 – tivesse sido identificada em 30% dos casos de leucemia megacarioblástica aguda, os cientistas não conseguiram explicar o seu mecanismo de ação.
Outra das grandes questões prendia-se com o fato de a leucemia megacarioblástica aguda ser diagnosticada em crianças que são, em média, muito mais jovens (com menos de 2 anos de idade) do que aquelas diagnosticadas com os outros subtipos de leucemia mielóide aguda pediátrica (em média, com 6 anos de idade).
“Um dos objetivos do nosso novo estudo era examinar o mecanismo de ação da fusão ETO2-GLIS2 e elucidar melhor suas as consequências. Queríamos responder a duas perguntas importantes, sendo a primeira a razão pela qual essa doença é específica de crianças – já que a fusão não é encontrada em adultos – e quais seriam as possíveis vias terapêuticas”, explica Thomas Mercher, um dos principais autores do estudo.
Esse trabalho envolveu a análise das características das células humanas de leucemia e o desenvolvimento de um modelo animais que servisse para estudar as consequências da fusão ETO2-GLIS2.
Rumo à descoberta de novas vias terapêuticas
Graças a esse modelo animal, os cientistas conseguiram mostrar que essa fusão é suficiente para induzir rapidamente uma leucemia agressiva, se for ativada nas células hematopoiéticas fetais.
Além disso, o bloqueio da fusão ETO2-GLIS2 no modelo in vivo interrompeu a proliferação do tumor, com as células sanguíneas anormais mais uma vez capazes de se diferenciar em células sanguíneas normais.
As descobertas sugerem que algumas formas de leucemia se desenvolvem especificamente em crianças porque as propriedades das células fetais diferem daquelas das células adultas.
Para além disso, tendo em conta os resultados, os cientistas acreditam ser possível propor novos mecanismos alvo nas células fetais e na leucemia pediátrica, a fim de melhorar os tratamentos para esses pacientes.
“O próximo passo será entender exatamente como é que esta fusão funciona. Vamos tentar identificar e direcionar as proteínas que são importantes para este acontecimento”, conclui Thomas Mercher.
Fonte: Medical Xpress