Comparar as alterações de ADN de células estaminais do sangue com células leucémicas pode ajudar a identificar crianças com leucemia mieloide aguda de alto risco.
Em algumas crianças com leucemia mieloide aguda, as células cancerígenas têm a mesma quantidade de alterações no ADN que células estaminais de sangue saudáveis.
Nesta investigação, os cientistas ficaram surpresos ao descobrir que essas crianças têm uma menor probabilidade de sobrevivência em comparação com crianças cuja leucemia tem um número acima da média de alterações no ADN.
Este novo trabalho de investigação “oferece novos conhecimentos sobre a forma como este tipo de cancro se pode desenvolver”, disseram os cientistas do Centro de Oncologia Pediátrica Princesa Máxima, nos Países Baixos.
“Num futuro próximo”, defendem, “estas novas descobertas podem vir a ajudar-nos a identificar quais os pacientes que têm uma forma de alto risco da doença”.
A doença oncológica é causada por erros no ADN de uma célula; quanto mais tempo as pessoas vivem, maior a probabilidade de tais mudanças ocorrerem, uma vez que o número de erros no ADN aumenta gradualmente à medida que as pessoas envelhecem.
Contudo, as células das crianças têm relativamente poucas alterações no ADN, “e esse é um dos motivos pelos quais ainda não é totalmente claro o porquê de elas desenvolverem cancro”.
Nesta nova investigação, os cientistas observaram o desenvolvimento de leucemia mieloide aguda em crianças. Nos Países Baixos, todos os anos, cerca de 25 crianças são diagnosticadas com este tipo de leucemia, sendo que, após o tratamento, cerca de um quarto das crianças sofre uma recidiva.
“A única forma de melhorarmos o tratamento é através de uma melhor compreensão das causas e da biologia subjacente à doença”.
Para tentarem descobrir o que está errado no ADN das células cancerígenas das crianças, os investigadores compararam o ADN completo das células estaminais do sangue saudáveis com o ADN de células leucémicas – esta análise foi feita recorrendo a biópsias da medula óssea de crianças tratadas para leucemia mieloide aguda no Centro de Oncologia Pediátrica Princesa Máxima juntamente com dados disponíveis internacionalmente de mais de 90 crianças também com a doença.
A investigação foi publicada na revista Blood Cancer Discovery.
“Observámos que, em algumas crianças, a quantidade e os tipos de alterações no ADN das células de leucemia eram muito diferentes do que os observados em células estaminais saudáveis do sangue”, disse Ruben van Boxtel, o investigador principal.
As células de leucemia nessas crianças tinham muito mais falhas no ADN em comparação com as células estaminais saudáveis do sangue.
Segundo os investigadores, esse aumento é causado pela oxidação, uma espécie de “ferrugem” do ADN que potencia o aparecimento de danos.
“Mudanças no ADN são o que torna o cancro maligno. Esperávamos que, quanto maior o número dessas mudanças, pior o prognóstico. Mas não foi isso que observámos. As crianças desse grupo tiveram uma maior probabilidade de sobrevivência em comparação com crianças que tiveram o mesmo número de alterações no ADN de células leucémicas e no ADN de células estaminais saudáveis do sangue”.
“Ficámos bastante surpreendidos”, disseram os cientistas.
No futuro, a quantidade de danos no ADN de células estaminais do sangue pode ajudar os profissionais de saúde a identificar formas de alto ou de baixo risco de leucemia mieloide aguda em crianças, acreditam os cientistas.
“Em vez de procurarmos por mudanças específicas no ADN, iremos apenas precisar de medir a quantidade e o tipo de dano ao ADN nas células estaminais do sangue – e esse teste seria bastante simples”.
Segundo os cientistas, apesar de mais estudos serem necessários, esta investigação “deu um passo importante para a existência de uma melhor compreensão sobre a origem da leucemia mieloide aguda em criança”.
Fonte: Eurekalert