Estudo avalia necessidade de recomendações internacionais de vacinação

Pacientes com cancro infantil devem ser novamente vacinados após receberem quimioterapia, de acordo com especialistas canadianos que avaliaram a resposta imune em crianças com leucemia linfoblástica aguda.

Realizada pela Universidade Dalhousie, no Canadá, a pesquisa descobriu que 73 crianças que haviam sido vacinadas anteriormente e tratadas para leucemia linfoblástica aguda tinham níveis mais baixos de anticorpos contra doença pneumocócica, tétano, tosse convulsa e varicela, do que as 78 crianças que fizeram parte do grupo de controlo.

Os resultados deixaram os investigadores “preocupados”, uma vez que estudos anteriores mostraram que, após o tratamento oncológico, crianças com leucemia linfoblástica aguda corriam um risco muito maior do que crianças saudáveis ​​de contrair infeções pneumocócicas, como meningite e sepse, além de varicela.

“Os pais de crianças com doença oncológica já têm bastante com que se preocupar enquanto os seus filhos estão a fazer tratamentos contra o cancro. Após o tratamento, o que estes pais menos precisam é de também terem que se preocupar com o facto dos seus filhos poderem desenvolver uma qualquer infeção grave que poderia ser facilmente evitável com a vacinação”, afirmou Karina Top, a principal autora do estudo.

A necessidade de recomendações uniformizadas

Os resultados do estudo também destacam a necessidade de diretrizes uniformes para as vacinas pós-quimioterapia.

Uma pesquisa em centros pediátricos de hematologia/oncologia no Canadá revelou que apenas 45% dos centros recomendam rotineiramente a revacinação após a quimioterapia.

“As nossas descobertas defendem a necessidade e o benefício da revacinação sistemática de crianças de todas as idades após a quimioterapia para o tratamento da leucemia linfoblástica aguda. No estudo, quase todos os participantes diagnosticados com este tipo de leucemia apresentaram níveis de anticorpos não protetores, ou indetetáveis, ​​para um ou mais antigénios, o que sugere uma vulnerabilidade acrescida a doenças que podem ser prevenidas através da vacinação após a quimioterapia”.

A leucemia linfoblástica aguda é a forma mais comum de cancro infantil e envolve o sangue e a medula óssea. De uma forma geral, o tratamento requer 2 a 3 anos de quimioterapia, durante os quais o sistema imunitário das crianças, incluindo a sua capacidade de produzir anticorpos para combater infeções, é suprimido.

Publicado na revista Clinical Infectious Diseases, o estudo examinou crianças que tinham entre 4 meses a 1 ano de idade; os participantes tinham sido tratados com quimioterapia e depois foram-lhes administradas vacinas para proteger contra difteria, tétano e tosse convulsa.

As crianças também receberam uma vacina conjugada que protegia contra 13 tipos de bactérias pneumocócicas. As amostras de sangue foram recolhidas e analisadas aproximadamente 2 e 12 meses após a vacinação.

A equipa descobriu que as crianças tratadas para leucemia linfoblástica aguda que tinham sido vacinadas após o tratamento tinham níveis mais altos de anticorpos contra a doença pneumocócica e tétano por, pelo menos, um ano após serem vacinados.

Descobertas estão em conformidade com estudos internacionais

Os resultados apresentados pela equipa de cientistas canadiana estão em consonância com os resultados de estudos realizados noutras partes do mundo, como a Austrália ou a Europa, que também defendem a revacinação de crianças que completaram terapia contra a leucemia linfoblástica aguda.

Em Portugal, em termos práticos, excetuando alguns pacientes transplantados, as crianças que foram sujeitas a tratamentos oncológicos não são revacinadas; o que acontece é que, cerca de 1 ano após o término dos tratamentos, retomam o plano normal de vacinação que foi suspenso após o diagnóstico de cancro.  

A equipa do atual estudo recomenda a vacinação a partir dos 4 meses após a quimioterapia em todas as crianças tratadas para leucemia linfoblástica aguda, independentemente da idade ou do histórico prévio de imunização.

“Estamos muito satisfeitos com estes resultados. É a prova de que existe uma necessidade de uniformizar as diretrizes internacionais e de por em prática a revacinação após a conclusão do tratamento para a leucemia linfoblástica aguda infantil”, concluíram os cientistas.

Fonte: Dalhousie University

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