Cancro Infantil: especialistas pedem a inclusão de cientistas britânicos e suiços em projetos de investigação da UE

Nos últimos anos, a ciência tem feito um grande progresso ao nível da investigação sobre o cancro – contudo, para manter esse impulso, os especialistas defendem dizem que é importante que os cientistas suíços e britânicos não sejam excluídos dos principais projetos de investigação da União Europeia sobre cancro infantil.

“Todos os cancros pediátricos são raros e, portanto, ao nível da investigação, é fundamental que existam colaborações além-fronteiras de forma a obtermos uma amostra suficientemente grande”, explicou Olga Kozhaeva, da Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica (SIOP Europe).

“Se o Reino Unido e a Suíça não participarem neste projeto colaborativo, isso será um problema não apenas para o avanço do conhecimento científico, mas também em termos de resultados piores para os pacientes, tanto na União Europeia quanto no Reino Unido.”

Em questão está a participação suíça e britânica no Horizon Europe, um dos principais programas da UE, que financia muitas investigações ligadas à doença oncológica.

Devido a divergências políticas – como é o caso do Brexit, no Reino Unido, ou as negociações bilaterais mais amplas sobre acesso ao mercado, na Suíça – cientistas de ambos os países estão, pelo menos temporariamente, afastados de novos projetos de investigação no âmbito deste programa.

“Esse afastamento teve efeitos indiretos em muitos campos, mas em investigações relacionadas com o cancro, tornou-se um assunto especialmente delicado”, dizem os investigadores.

A importância da investigação colaborativa

Todos os anos, na Europa, cerca de 35 mil crianças, com idades entre 0 e 19 anos, são diagnosticadas com cancro; dessas, quase 6 800 morrem, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

O cancro continua a ser a principal causa de morte relacionada com a doença para crianças com idades compreendidas entre 1 e 15 anos. No entanto, a palavra “cancro” representa uma ampla gama de doenças, e os cancros infantis são diferentes dos cancros em adultos, sendo considerados mais agressivos em muitos casos. Casos de cancro infantil são também menos comuns do que cancros em adultos, o que significa que apenas alguns investigadores na União Europeia têm experiência com um tipo específico de cancro infantil.

“A leucemia representa um terço de todos os cancros pediátricos. Contudo, há determinados tipos de cancro infantil que afetam apenas 20 crianças por ano, em toda a União Europeia. Muitos desses cancros não têm, sequer, um tratamento padrão definido. Portanto, ter estas discussões e interações com colegas que viram alguns desses pacientes é crucial”, disse Carmelo Rizzari, presidente da SIOP Europe.

O baixo número de casos significa que os dados sobre cada paciente são necessários para a investigação, caso sejam encontrados resultados significativos. Todos os estudos científicos precisam de ter um número mínimo de participantes para que os resultados sejam considerados estatisticamente significativos.

As taxas de sobrevivência de crianças com cancro em toda a União Europeia variam muito.

Embora os países mais ricos relatem que, em média, 8 em cada 10 pacientes sobrevivem mais de 5 anos após o diagnóstico, outros países têm resultados menos felizes.

Por exemplo, a taxa de sobrevivência estimada 5 anos após um diagnóstico do rabdomiossarcoma, um cancro dos tecidos moles, foi de 39% na Europa Oriental em 2005-2007, em comparação com 69% no norte da Europa durante o mesmo período, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

As redes de investigação financiadas pela União Europeia estão a ajudar a colmatar esta lacuna.

Organizações como a European Reference Network on Pediatric Cancer (ERN PaedCan), bem como a European Society for Pediatric Oncology Clinical Research Council, foram saudados pela OMS como “exemplos que podem ser contextualizados para outras configurações”, como um sistema para mitigar grandes desigualdades nas taxas de sobrevivência ao cancro, facilitando a troca de conhecimento entre os países.

O papel das redes de investigação

A ERN PaedCan permite que os médicos colaborem rapidamente para encontrar soluções para ajudar pacientes com cancro infantil, oferecendo a oportunidade aos especialistas de se conectarem rapidamente por toda a União Europeia.

Como os cancros infantis são tão raros, pode haver apenas um ou dois especialistas em toda a Europa que possam ajudar num caso específico.

“O Reino Unido e a Suíça têm sido tradicionalmente importantes fontes de informação e experiência para outros países da União Europeia”, afirmou Carmelo Rizzari.

Por exemplo, Roménia, Lituânia e Eslováquia relatam taxas de mortalidade à entre 3,4 e 3,1 por 100 mil pacientes com cancro infantil, em comparação com menos de 2,1 no Reino Unido e apenas 1,8 na Suíça. A partilha de conhecimentos de países com melhores taxas de sobrevivência pode melhorar os resultados em toda a União Europeia.

Após o Brexit, três centros do Reino Unido que tratam o cancro infantil foram excluídos do ERN PaedCan – e “isto aconteceu ao mesmo tempo que a União Europeia enfatizava a importância do combate ao cancro infantil nas suas duas maiores iniciativas de combate à doença, incluindo o Europe Beating Cancer Plan”, explicaram os investigadores.

Por sua vez, Ian Walker , da Cancer Research UK, também expressou a sua preocupação, uma vez que “atrasos contínuos para chegar a um acordo de associação com a Horizon Europe prejudicarão a colaboração, o que significará um progresso mais lento em direção a tratamentos que salvam vidas para pacientes”.

“O cancro é um problema mundial que só será resolvido se os países do mundo trabalharem em conjunto – o Europe Beating Cancer Plan é uma abordagem ousada de longo prazo para combater o cancro, e queremos que os cientistas do Reino Unido façam parte disso por meio do acesso ao Horizon Europe. Para o Reino Unido perder influência neste programa, num momento tão crucial como o que vivemos agora, seria um golpe significativo para os cientistas do nosso país”.

“O conhecimento deve ser difundido onde for possível e a cooperação deve ser fomentada e apoiada porque a ciência e a saúde pertencem a todos nós. Estas áreas devem ser deixadas de fora da política”, defende Carmelo Rizzari.

Para o presidente da SIOP Europe “não deveria haver fronteiras no âmbito de investigações que pretendem salvar vidas”.

Fonte: Science Business

Este artigo foi úlil para si?
SimNão
Comments are closed.
Newsletter