De acordo com uma estimativa realizada em 2020 pelo National Cancer Institute norte-americano, todos os anos, só nos Estados Unidos, mais de 11 mil crianças e adolescentes são diagnosticados com cancro; destes, cerca de 1 190 acabam por falecer.
Os tipos mais comuns de cancro diagnosticados em crianças com idades entre os 0 e os 14 anos são as leucemias (que representam cerca de 28% de todos os cancros infantis diagnosticados), os tumores cerebrais e do sistema nervoso central (cerca de 26% de todos os cancros diagnosticados) e os linfomas.
Apesar de o relatório ter mostrado que, nesta população, as taxas de mortalidade por diminuíram 65% entre 1970 e 2016, a doença oncológica continua a ser a principal causa de morte por doença entre crianças.
Na maioria dos casos, os médicos não sabem qual a causa para o aparecimento destes cancros; por exemplo, ao contrário do cancro em adultos, os cancros infantis não estão associados a fatores de risco ambientais uma vez que, ao longo da sua curta vida, é raro as crianças serem expostas a várias substâncias cancerígenas.
Por outro lado, o cancro infantil também não está associado a fatores de estilo de vida, como tabagismo e consumo de álcool, ou aos efeitos do envelhecimento que, muitas vezes, originam a doença oncológica em adultos.
Embora alguns cancros pediátricos possam ser causados por alterações no ADN, que é passado de pais para filhos, apenas cerca de 5% dos cancros pediátricos estão associados a mutações genéticas específicas que são herdadas dos pais.
De acordo com o National Cancer Institute, a sobrevivência da maioria dos cancros infantis melhorou nas últimas décadas.
Essa melhoria foi especialmente elevada em alguns tipos de cancro, particularmente na leucemia linfoblástica aguda, o tipo de cancro infantil mais comummente diagnosticado.
A principal razão para essas melhorias foi a introdução de novas opções de tratamento introduzidas nas décadas de 1960 e 1970, que aumentou a taxa de sobrevivência a 5 anos para crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda de 57% em 1975 para 92% em 2012.
Essa taxa de sobrevivência também foi observada no linfoma não Hodgkin, cuja taxa de sobrevivência aumentou de 43% em 1975 para 91% em 2012.
No entanto, e apesar das estimativas da American Cancer Society afirmarem que até 84% das crianças com cancro sobreviverão por, pelo menos, mais 5 anos após o diagnóstico, continua a haver uma necessidade urgente de melhores opções de diagnóstico e tratamento pediátrico.
“Muitos dos atuais testes de diagnóstico e opções de tratamento para cancros pediátricos são baseados em informações derivadas de métodos usados em pacientes adultos e podem afetar as crianças negativamente”, explica Paul Crowe, CEO da NuView Life Sciences.
“Por causa desta pandemia, os nossos ensaios clínicos foram interrompidos. Quando os pudermos retomar, esperamos mostrar que a nossa tecnologia NV-VPAC1™ ajuda a tornar o diagnóstico de cancro mais fácil. Vai ser possível detetar esta doença mais cedo, o que levará a tratamentos mais precisos e individualizados para pacientes mais jovens”.
A tecnologia NV-VPAC1 da NuView Life Sciences consiste numa série de análogos de peptídeos que têm como alvo o recetor de peptídeo intestinal vasoativo tipo 1 (VPAC1).
O recetor VPAC1 fica super-expresso em certas doenças malignas importantes, incluindo cancro da mama, próstata, cólon, bexiga e do endométrio.
Atualmente, as ferramentas de diagnóstico dependem, muitas vezes, de procedimentos invasivos, como biópsias cirúrgicas ou exames que usam radiação para localizar com precisão o cancro em crianças.
Em contraste, o NV-VPAC1 está pronto para mudar esse paradigma, ao usar um ensaio de células de eliminação originalmente desenvolvido por Madhukar Thakur e Leonard Gomella da Universidade Thomas Jefferson, nos Estados Unidos.
“O nosso principal objetivo é proteger as crianças o máximo possível, mesmo quando temos que testá-las devido a uma suspeita de doença oncológica. O NV-VPAC1 em uso pediátrico está a ser desenvolvido para identificar positivamente as células cancerígenas, o que elimina a necessidade de testes mais invasivos e potencialmente prejudiciais”, explicou Jill S. Helmke, da NuView Life Sciences, que também está envolvida neste processo.
Já o especialista em Radioterapia Oncológica, Gil Padula, defende que os “cancros infantis são agora muito mais facilmente tratáveis do que eram antes”.
“Neste momento, estamos a tentar evitar os efeitos secundários tardios. A deteção precoce pode levar a riscos menores de morbidade causada pelo tratamento, principalmente numa população que está em pleno processo de crescimento. O cancro secundário é sempre um risco associado ao tratamento oncológico, mas hoje, ao detetarmos o cancro de forma mais precoce, podemos utilizar outro tipo de tratamentos que nos possibilitem evitar a toxicidade”.
Segundo a empresa, a tecnologia desenvolvida pela NuView Life Sciences pode vir a beneficiar tremendamente as crianças.
Por exemplo, se existe uma suspeita de cancro renal numa criança, os médicos apenas precisarão de uma amostra de urina para testar a presença de células cancerígenas.
Da mesma forma que um teste de diagnóstico in vitro, o NV-VPAC1 pode ser comummente usado para ajudar a diagnosticar cancros infantis.
Como o teste é feito “fora do corpo, os ensaios pediátricos in vitro seriam capazes de mostrar alta sensibilidade e especificidade, bem como reprodutibilidade em laboratório”.
No entanto, muitos cientistas não querem realizar ensaios clínicos pediátricos até que os resultados tenham sido comprovadamente eficazes em adultos.
“O NV-VPAC1 pode ser a resposta que pacientes, pais e provedores estão à procura”, acredita a NuView Life Sciences, que está ansiosa por retomar os ensaios clínicos interrompidos pela pandemia.
“Queremos mostrar que o NV-VPAC1 é uma forma mais segura e precisa de diagnosticar cancros pediátricos em comparação com os métodos de diagnóstico atuais, que são mais dirigidos para adultos. Assim que a tecnologia ultrapassar esse obstáculo, continuaremos a explorar de que forma ela pode ser usada para fornecer tratamentos eficazes contra o cancro a crianças de todas as idades”.
Fonte: Oncozine